Análise: Regina Duarte vira pivô de briga entre militares e "olavistas"
Além de todos os seus problemas, o governo de Jair Bolsonaro também parece sofrer de esquizofrenia.
E o órgão que mais transparece essa esquizofrenia hoje é a Secretaria Especial da Cultura, comandada (sic) pela atriz Regina Duarte.
Aos 73 anos, ela assumiu o cargo há exatamente três meses e desde então não conseguiu fazer absolutamente nada.
Como esta coluna já havia comentado na semana passada, no canal do UOL no YouTube, o problema não é a falta de vontade ou de competência da atriz.
Apesar de ser uma "caloura" em um cargo público, a atriz chegou ao posto cheia de planos e esperanças.
Mas, já assumiu o posto sob ataque de "olavistas" —funcionários da pasta que são seguidores do guru Olavo de Carvalho, radicado nos EUA.
Além de a secretaria em si já estar esvaziada no governo Bolsonaro (virou um mero apêndice do Ministério do Turismo), Regina Duarte não consegue levar nenhum projeto adiante: nomeações, demissões, planos de fomento à cultura e às artes, nada.
Por exemplo, a atriz está há semanas tentando negociar a renovação do contrato do governo com a fundação Roquette Pinto para a manutenção da Cinemateca Brasileira —um serviço que exige imenso know-how e que tem enorme importância para a cultura cinematográfica do país.
Sem sucesso, porque os "olavistas" estão se lixando para isso.
Outro projeto: ela tenta trazer a ótima TV Escola e a TV Ines (especializada em conteúdo para surdos) de volta para o domínio público.
As duas emissoras, mais a Cinemateca, tiveram seus contratos rompidos abruptamente com o Ministério da Educação no início do ano.
Regina até agora não conseguiu tirar a ideia do papel.
Para piorar, uma de suas primeiras decisões acabou por rachar a secretaria ao meio em definitivo: a demissão da reverenda Jane Silva em fevereiro. Ela era a número 2 do órgão e apoiada pelos "olavistas".
Desde que saiu do cargo Jane Silva vem tramando contra Regina, espalhando todo tipo de informações negativas a respeito dela.
Mas, a secretaria "rachou" mesmo porque militares como o general Luiz Eduardo Ramos não só apoiaram a demissão como estão fazendo o possível para ajudar Regina em seu trabalho.
Com isso a Secretaria Especial de Cultura se tornou uma trincheira em que lutam de um lado "olavistas", de outro militares e no meio do fogo desse bombardeio está a atriz.
Empoleirado em cima do muro, bem à distância e sem se intrometer, está o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
Ou seja, a secretaria virou o epicentro do braço de ferro entre os fiéis da "igreja" de Olavo de Carvalho —que detesta os militares e vem reiterando isso desde 2018— e os ex-membros das Forças Armadas, que foram um dos pilares de sustentação e da eleição do presidente.
Pois bem, Regina Blois Duarte foi chamada para uma "conversa" com Bolsonaro nesta semana. O encontro provavelmente ocorrerá na terça-feira.
Pelo histórico de pressão e de poder do "olavismo" junto à família Bolsonaro, não é muito difícil prever como terminará essa conversa.
Apesar de estar recheado de generais de quatro estrelas, no governo federal o guru de Virgínia (EUA) e seus discípulos parecem ter muito mais poder e voz ativa.
Pois mesmo sob fogo cruzado, sendo humilhada e desprestigiada, a ex-namoradinha do Brasil insiste em ficar onde definitivamente não é bem-vinda.
Ainda por cima segue declarando apoio ao governo. É muita burrice, ingenuidade ou otimismo doentio.
Se depois de tudo isso ainda for "chutada" do cargo (o que é bem possível), só restará à atriz desempregada se candidatar no SBT ao papel de Poliana —fase idosa.
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops