Deputados pedem que museu censure arte mostrando Virgem Maria nua com pênis
Resumo da notícia
- Deputados Capitão Paulo Teixeira e Márcio Gualberto, do Rio, pediram remoção de obras do Centro Cultural Hélio Oiticica
- Principal peça apontada como ofensiva pelos dois retrata Virgem Maria nua, e com um pênis
- Artista Órson Lalli defendeu obra dizendo que é um retrato da vida como HIV positivo
- Prefeitura não se posicionou ainda sobre o caso
Uma peça de arte da residência Lavra, no Centro Cultural Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, virou alvo da indignação de dois deputados estaduais por misturar uma imagem da Virgem Maria com pedaços de corpos nus, incluindo um seio feminino e um pênis.
A obra, intitulada "Todxs xs santxs - renomeado - #eunãosoudespesa", é de autoria de Órion Lalli. Os deputados Capitão Paulo Teixeira (Republicanos) e Márcio Gualberto (PSL) se posicionaram contra a exposição da peça.
Lalli defendeu seu trabalho em entrevista ao jornal O Globo, dizendo que quis representar a vida de uma pessoa HIV positiva, como ele. "É uma questão imagética. Eu falo deste corpo em que vivo. Vejo que as pessoas não estão entendendo nada, e nem cabe a mim explicar", comentou.
Visita e ameaças
O deputado Gualberto filmou uma visita ao Centro Cultural na última quarta-feira, postando o vídeo em suas redes sociais: "O espaço, da Secretaria Municipal de Cultura do Município, dedicado à diversidade da produção artística contemporânea, exibe um absurdo escárnio da fé cristã", escreveu.
"Um ultraje aos símbolos religiosos e até mesmo a valores caros ao Presidente da República. Isso é liberdade de expressão? Vou pedir explicações aos responsáveis pelo espaço e à Prefeitura do Rio de Janeiro!", completou.
No vídeo, o deputado ainda aponta outras obras do Centro Cultural que considera ofensivas, como parte da mostra Cine Desejo, da artista Carolina Valansi, que faz referência a imagens e cartazes da indústria pornográfica.
Após a repercussão na imprensa, Gualberto fez um segundo post se defendendo, dizendo que "em nenhum momento foi agressivo ou incentivou qualquer tipo de violência física ou verbal aos responsáveis pelo escárnio ao cristianismo".
Lalli, no entanto, contou que já recebeu ameaças na internet. "Não sei para onde corro, não sei se tenho respaldo da polícia, até porque o deputado Gualberto é inspetor da polícia civil. Meu medo é como me protejo agora. Fica claro que estamos vivendo numa ditadura", disse.
Julia Vita, autora de outra das obras apontadas por Gualberto, intitulada "Trabalho Doméstico", afirmou o mesmo. "Estou sofrendo ameaça, ofensa, meu rosto está sendo divulgado. Recebi a mensagem 'morre vadia', e outras pessoas ficaram citando uma suposta 'vigilância'", contou.
Pedido à prefeitura
O Capitão Teixeira disse a O Globo que encaminhou um pedido ao prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) para que ordenasse a retirada da obra. O deputado negou que sua atitude fosse de censura.
"A lei não permite censura. Mas também não permite que se cometa vilipêndio ao sentimento religioso, seja qual for a crença: católico, espírita, evangélico", argumentou.
A Prefeitura do Rio de Janeiro não comentou o caso até o momento. Segundo o jornal, uma equipe da secretaria municipal da cultura foi até o Centro Cultural na manhã de ontem e pediu que a classificação indicativa da exposição fosse aumentada de 10 para 16 anos.