Veleiro que reproduz expedição de Fernão de Magalhães chega ao Brasil
María Traspaderne.
Madri, 8 dez (EFE).- O veleiro Pros, que segue o caminho iniciado pelo português Fernão de Magalhães e concluído pelo espanhol Juan Sebastián Elcano 500 anos depois da primeira circum-navegação da história, chegou ao Brasil após cruzar o Oceano Atlântico em 21 dias, uma aventura de 2.700 milhas naúticas (5 mil quilômetros) de leste a oeste, passando por calmarias e tormentas.
Pepe Solá, capitão desse projeto de dar a volta ao mundo como fizeram os pioneiros há cinco séculos, relatou à Agência Efe em Recife como foi a travessia do oceano em um veleiro de 21 metros de comprimento com sete tripulantes a bordo.
Nesta fase, a segunda do projeto "Atrás do rastro de Elcano", participaram o capitão Paco, comandante reformado de submarinos da Marinha espanhola; Manuel e Jaime, dois engenheiros navais também reformados: Agustín, um consultor financeiro; Miguel, um montanhista dedicado aos seguros, e um sétimo reformado, José.
No dia 15 de novembro, os sete saíram de Las Palmas de Gran Canaria (nas Ilhas Canárias, no Oceano Atlântico) prontos para seguir uma rota semelhante à empreendida em 1519, rumo ao desconhecido, por cinco navios comandados pelo português Fernão de Magalhães, que morreu nas Filipinas e foi sucedido pelo espanhol Juan Sebastián Elcano, que concluiu a façanha.
Esta é a época propícia para navegar da Europa à América, graças aos ventos alísios de leste a oeste que empurram o barco, assim como ocorreu na expedição que provou que a Terra é redonda.
Mas, para chegar ao Brasil, é preciso atravessar uma das regiões mais temidas pelos marinheiros: a Linha do Equador, conhecida como "zona de convergência", onde se chocam os anticiclones dos hemisférios Norte e Sul. Segundo Solá, às vezes são criadas calmarias mescladas com tormentas, e os veleiros ficam semanas sem poder avançar.
"Não ficamos apenas sem vento, também somos atingidos por chuvas e raios. Mas fizemos isso em quatro dias, apenas em um dia a água caiu em cima de nós, com muito pouco vento", relatou.
O Pros também conta com uma antena de satélite que atualizava a meteorologia, o que permitiu driblar os piores prognósticos: "Fomos bem e tivemos sorte", disse Solá após três semanas no mar.
"Algumas coisas dão errado, como uma bomba que fica travada, uma catraca que tem de ser remendada", comentou. De fato, os profissionais ficaram sem água nos tanques (que substituíram por água do mar dessalinizada graças a uma estação de tratamento), o congelador deixou de funcionar e o piloto automático falhou várias vezes. Um veleiro nem se compara a um cruzeiro.
"Quem pensa isso nunca esteve em um veleiro: tem o movimento, o balanço que um veleiro pode fazer quando o oceano fica complicado", resumiu, ao acrescentar isso é um prazer contínuo para ele, mas para outros pode ser o inferno.
Depois de 17 dias, os tripulantes tocaram a terra pela primeira vez em Fernando de Noronha, onde passaram uma noite antes de seguir para Recife.
Na capital pernambucana, atracaram no sábado no iate clube Cabanga, onde foram recebidos por patrocinadores como Aena e Unicol, autoridades e Dulce, integrante da Agnyee, a associação que organiza a expedição, que espera embarcar nos próximos três anos e viajou da Espanha para recebê-los.
Eles permanecerão no Recife até terça-feira, quando seguirão para o Rio de Janeiro em uma viagem de dez dias. A expectativa é chegar à capital fluminense em 19 de dezembro, onde o barco ficará durante o Natal, com um tripulante a bordo para tomar conta.
"E como fica o corpo depois de 21 dias no mar? Antes, quando saía do barco, me mexia todo. Agora nem se move. Mas é muito agradável colocar os pés em terra firme depois de três semanas", contou Solá, que talvez passe o posto de capitão para outro na etapa do Rio a Buenos Aires, em janeiro.
Segundo ele, o Pros "não é mais um projeto, é uma realidade". Quando chegar ao Rio, a expedição terá concluído 10% das 44 mil milhas traçadas para cruzar três oceanos e quatro continentes. EFE