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Apresentadoras do Drag Me As a Queen relatam como libertaram suas divas

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do UOL

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

15/09/2019 04h00

Com formato originalmente brasileiro, o reality show Drag Me As a Queen foi exportado para a Holanda, berço de atrações que viraram febre na televisão mundial como o Big Brother.

A terceira temporada já foi confirmada no Brasil para o ano que vem pelo canal E!, agora apenas com celebridades participando, e recentemente o programa estreou na Holanda com o título The Diva in Me.

Em entrevista ao UOL, as apresentadoras brasileiras Ikaro Kadoshi, Penelopy Jean e Rita von Hunty revelaram como o encontro com cada uma de suas divas interiores ajudaram a descobrir mais sobre si mesmas — proposta do formato do programa, que a cada episódio leva uma mulher a encarar um processo de autodescoberta, envolvendo uma transformação radical que passa por figurino, maquiagem e o resultado com a realização de uma performance para amigos e familiares.

Para Guilherme Terreri, a Rita, o programa trata de uma linguagem universal, mas ainda assim ele vê particularidades da cultura brasileira que explicam a relevância do formato no país.

"Mulher e LGBT existem no mundo inteiro, mas não com as nuances do Brasil. Nosso país é o que mais mata pessoas LGBT no mundo e é o quinto país em feminicídio. O Drag Me trouxe o encontro dessas vivências para a discussão. Como são duas subjetividades que estão minorizadas, o encontro gera uma potência artística e discursiva", expõe. "Vai sempre ser um tabu porque a nossa sociedade é machista, patriarcal, misógina e violenta. Os nossos corpos são alvos, especialmente em momentos de ascensão de figuras totalitárias", afirma.

A seguir, os três performers falam sobre tabus, preconceitos e como descobriram as suas divas interiores:

Guilherme Terri (Rita von Hunty)

Rita von Hunty - Divulgação - Divulgação
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"A diva que tem dentro de mim é em parte reflexo das divas que estavam fora de mim. A minha drag é um tributo às figuras femininas que me trouxeram até aqui, como mulheres fortes e independentes. A gente costuma ser apresentado a elas no âmbito familiar, como é o caso da minha mãe e minha avó. Na história pública sempre fui apaixonado pela Bette Davis e Dita Von Teese. Essas divas exteriores foram referências para eu encontrar a minha diva".

Eu me libertei no momento em que o meu medo passou a ser menor do que a minha vontade. É o medo de ser julgado, medo de não ser amado e medo de não pertencer. Parei de me importar se vou ser amado, se vou pertencer ou se vou ser julgado. Conforme amadurecemos, a gente entende que amor de verdade e pertencimento são muito raros e eles não vêm da esfera pública, mas da privada.

É um processo de independência, de me descobrir protagonista da minha vida e dar voz aos meus desejos. A drag queen é uma brincadeira séria porque mexe com uma série de coisas que são tabu na sociedade. Ela fala sobre corpo, estereótipo, gênero... E ao mesmo tempo mostra como as nossas competições de corpos masculinos e femininos são só construções sociais. Como as proibições da indumentária, sobre roupa de homem e roupa de mulher. Isso tudo é uma besteira.

A drag é sobre expressão, libertação. É um recurso de autoconhecimento. Apenas colocar uma peruca e uma roupa não é drag queen. É Carnaval. É festa à fantasia. É trote de ensino médio. Drag Queen é totalmente diferente."

Tiago Liberato (Ikaro Kadoshi)

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"Comecei a ser drag quando ainda não tinham redes sociais. Descobrir a minha diva é um processo que não acaba. A gente se redescobre cada vez que nos montamos. Cada vez que saio de casa como drag recebo um olhar diferente que não estou acostumado. O ato de estar drag causa nas pessoas várias reações, que faz com que você encontre a sua diva interior. Você começa a se blindar e a entender que o seu valor é mais importante do que o pensamento do outro.

Nós temos, como LGBTs, que nos assumir duas vezes. Na primeira vez como LGBT e na segunda como drag. Quando fiz isso, 95% das pessoas do meu convívio, chamadas de amigos, pararam de falar comigo. Naquela época era uma queimação de filme andar com uma drag queen. As pessoas não queriam ser vistas conosco porque as drags estavam associadas à prostituição, promiscuidade e a alguma coisa errada. Deixaram de falar comigo.

As pessoas que eu convivia já me conheciam como gay e quando falei que ia começar a me montar foi um baque. Uma surpresa muito grande e difícil. Então quer dizer que existem pesos e medidas? As piores coisas que me acontecem são aquelas das quais eu tiro os melhores aprendizados. Descobri que se você tem amigos que não te aceitam, procure novos amigos. Foi o que eu fiz.

Até hoje passamos por preconceito para namorar. Existe uma criação machista no próprio meio LGBT, que também diminui o feminino. Já passei por situações em que os caras falavam, 'te acho muito bonito, mas pena que você se monta'. É o preconceito do mundo que ainda não entendeu que drag queen é uma arte e uma profissão. E segundo, que ser drag queen não tem nada a ver com meu dia a dia. Não estou montado 24 horas. Tem gente que me manda mensagem no Instagram perguntando se eu vou na padaria tomar café da manhã daquele jeito."

Renato Ricci (Penelopy Jean)

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"A descoberta da Penelope foi por acaso, de brincadeira. Foi numa festa à fantasia em que resolvemos ir montados, mas sem nenhuma pretensão. As pessoas começaram a me falar como eu ficava bem montado e isso foi me motivando. A partir disso comecei a investir mais. O processo de aprender a se maquiar também é um autoconhecimento incrível. Você passa a reparar em cada ponto do seu rosto. A transformação drag é de dentro para fora e de fora para dentro. Só se montando para sentir a loucura e a delícia que é.

Um momento incrível foi quando minha mãe, minha tia e minhas primas foram me ver na estreia da primeira temporada de Drag Me as a Queen. Foi a primeira vez que elas me viram performando. Foi muito especial ter a minha família me apoiando.

Uma experiência difícil é o preconceito que a gente sofre do próprio meio. A maioria das drags gays não consegue se relacionar. É um tabu.

Muitos gays acham lindo nos ver no palco, mas acaba ali. Às vezes eles têm o desejo reprimido de se montar, mas não passa disso porque infelizmente tudo o que remete ao mundo exageradamente feminino para a maioria dos gays não é visto como legal. Isso é fundamentado no machismo e na misoginia da nossa sociedade.

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