Em noite conturbada, Império Serrano escolhe samba para 2020
Uma das escolas mais tradicionais do Carnaval carioca, com nove títulos em sua sala de troféus, o Império Serrano viveu uma noite triste. O que deveria ser uma festa para celebrar o samba do próximo Carnaval terminou em pancadaria. Ao anunciar o resultado, na madrugada deste domingo, a presidente da escola, Vera Lúcia Corrêa, fez questão de se pronunciar, ao microfone, de que o vencedor não era o samba de sua predileção.
"Infelizmente, eu perdi. O samba que eu queria não vai para a avenida. Para mim, era o melhor samba. Estou muito triste", disse a presidente, que afirmou estar se afastando da escola.
Logo em seguida, o intérprete Silas Leléu começou a entoar o samba vencedor, da parceria de Aluísio Machado, Lucas Donato, Senna, Matheus Machado, Luiz Henrique, Thiago Bahiano, Beto BR, Rafael Prates e Renan Diniz. Mal os primeiros acordes ecoaram pela quadra, iniciou-se, por parte dos descontentes pelo resultado, uma briga, que esvaziou o recinto em poucos minutos.
Mais um capítulo conturbado na história de uma escola que sempre prezou a democracia, mas que, nos últimos anos tem sofrido demasiadamente por conta das brigas políticas internas.
Ao se confirmar a renúncia da presidente, o estatuto do Império Serrano preconiza que uma nova eleição deverá ser convocada em até 30 dias. O novo presidente assumiria um mandato-tampão até abril do ano que vem, quando estão marcadas as novas eleições.
Após dois anos no Grupo Especial por conta das viradas de mesas, a escola está longe de ser a agremiação poderosa que foi dos anos 1950 até meados dos anos 1980. Seu último título foi em 1982, e a última passagem no Desfile das Campeãs aconteceu em 1987. Desde então, foram seis rebaixamentos, em 1991, 1997, 1999, 2007, 2009 e 2019.
Problemas internos à parte, o Império Serrano tentará voltar ao Grupo Especial com o enredo "Lugar de mulher é onde ela quiser", do carnavalesco Júnior Pernambucano. A escola será a última a desfilar na sexta-feira de Carnaval.
Confira o samba do Império Serrano:
Sou a guardiã de nossa história
Sou eu, a Tia, dona da memória
A Negra Realeza da Serrinha
Mãe Preta, do jongo, Rainha!
De pé descalço, piso forte no terreiro
Abro a roda pra mironga de jongueiro
Evoco em versos Marias guerreiras
A heroica resistência nas trincheiras!
Canto a bravura e a valentia
De mulheres que lutaram dia a dia!
Vim mostrar o meu valor!
Vovó ensinou, vovó contou
Tenho sangue de Dandara
A nobreza de Benguela!
Sou alteza da favela!
A luta não pode parar
Insistem; não vou me curvar!
"Eu quero, a bem da verdade"
A tal igualdade…
"Sonho meu"…
Que o mundo tenha mais respeito!
"Sonho meu" fazer valer nossos direitos
Livres da mão do algoz
Ninguém vai calar nossa voz!
Quem diz que mulher não é valente?
Imperiana, presente!
Eu sou raiz, filha desse chão
Resisto a qualquer opressão!
Seu lugar é onde quiser!