Rodas de samba cariocas se articulam para captar patrocinadores
Estão longe os tempos em que as rodas de samba eram vistas apenas como diversão descompromissada. Movimentando R$ 10 milhões por mês e gerando cerca de 9 mil postos de trabalho, a Rede Carioca das Rodas de Samba realizou, na semana passada, um evento inédito de co-working para captar patrocínios de empresas que estejam habilitadas a investir pela Lei do ISS (Imposto Sobre Serviços). O encontro, realizado no Wework Carioca, reuniu representantes de 50 empresas, que puderam conversar com os realizadores das rodas.
Desde 2015 em atuação, a Rede reúne organizadores dos eventos que se espalham por todas as regiões do Rio de Janeiro - em sua esmagadora maioria, nas ruas da cidade. Congregando 40 rodas e 300 eventos mensais, o grupo foi selecionado e participa, há um mês, do programa BNDES Garagem, que fomenta startups do ramo da economia criativa. Na esteira deste processo, surgiu o encontro da última quinta-feira.
"O objetivo é aproximar os promotores que aprovaram projetos de captação dos patrocinadores. Ter a aprovação não é tão difícil, mas conseguir o patrocínio sempre é complicado. Reunimos as empresas para mostrar a roda de samba com seu potencial de retorno de marca. Muitos nem sabem que o seu imposto pode ser utilizado para financiar estas iniciativas", explica Wanderson Luna, coordenador geral da Rede.
De acordo com Luna, a maior dificuldade dos promotores dos eventos é chegar aos patrocinadores. "Para quem vem de camadas populares, acessar crédito é mais difícil. Os empresários ainda estão muito voltados para manifestações culturais de elite", explica o coordenador, que destaca também o trabalho que a Rede está realizando com os órgãos públicos. A partir de uma articulação com o Sebrae e a Prefeitura do Rio, foram catalogadas 271 rodas de samba na cidade e a intenção é integrar todas neste coletivo.
Marcelo Santos, coordenador de articulação da Rede, traz mais um dado que reforça a importância das rodas de samba para a cidade, além do legado cultural, o fomento à economia local e a revitalização de pontos da cidade. "Cada roda de samba gera trabalho para 80 pessoas, isso sem falar nos ambulantes e no comércio do entorno. E, graças aos sambistas, lugares da cidade que estavam abandonados, como a Praça Tiradentes e a Pedra do Sal, foram reinseridos na cidade", explica.
Santos também ressalta que o perfil do público auxilia, inclusive, a sensação de segurança na cidade: "Não há confusão nas rodas. O público é esclarecido, tem acesso à cultura. Temos dados de que a criminalidade nas regiões diminui por conta das rodas". Otimista com o novo momento das rodas, Marcelo Santos, que vê neste movimento uma herança das ações afirmativas do Governo Federal, espera um novo paradigma para o sambista. "Todo mundo ganhou muito dinheiro com o samba. Chegou a hora da gente".
Fernanda Farah, gerente de Economia Criativa do BNDES, é uma entusiasta do poder das rodas de samba para propiciar novos negócios. Em sua opinião, o Brasil tem vocação para a economia criativa e para o entretenimento e as rodas de samba estão na vanguarda. "O samba é um bem imaterial e um ativo que não pode ser substituído pela máquina. Nada substitui a nossa criatividade. O samba é um produto genuinamente brasileiro e deve ser incentivado", acredita.
O cervejeiro Leonardo Loyola foi um dos empresários que se dispôs a conversar com os promotores e se diz convicto da importância de investir nas rodas de samba. "Nossa marca é comprometida com a cidade e o samba é a nossa maior identidade cultural. Estamos aqui para potencializar esta relação". Em sua opinião, enquanto as grandes cervejarias se preocupam somente em vender bebidas, as empresas de menor porte procuram uma identificação com seus consumidores. "O samba é um mercado em potencial crescimento", avalia.