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"Quem ficou rica com o Agostinho foi a Rede Globo", diz Pedro Cardoso

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

24/07/2019 12h38

O ator Pedro Cardoso, que ficou 13 anos no ar como Agostinho Carrara na série A Grande Família, afirma que não enriqueceu com personagem. Em entrevista ao programa Provocações, comandando por Marcelo Tas na TV Cultura, o ator falou sobre a Globo, disse que "nenhuma pessoa fica rica sem explorar a mais-valia imensamente", criticou o governo atual e falou sobre um trauma de infância que o fez apagar seu passado.

"O Agostinho não me deixou rico. Quem ficou rica com o Agostinho foi a Rede Globo. A Rede Globo que é o capitalista naquele negócio, é que tem possibilidade de ficar rico. Tenho 57 anos e não tenho uma economia que me possibilite não trabalhar. Venho ao Brasil trabalhar pelo dinheiro da bilheteria", contou ele, que mora com a família há mais de dois anos em Portugal.

"Se eu não acordar de manhã e for trabalhar, não tem uma estrutura de exploração do trabalho de outras pessoas que faz dinheiro para mim, onde eu apenas emprego o meu capital ali, não acho isso uma relação justa, acho isso uma relação que produz pobreza. Por isso digo que sou de extrema esquerda, sem o aspecto ditatorial, mas da convicção da responsabilidade social", completou.

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Questionado sobre o que o faz partir para a ignorância, Pedro disse que não suporta covardia e intolerância e criticou o que ele chama de "fascismo vigente no Brasil" do governo atual.

"A pessoa que acha que o direito dela dá a ela o direito de se impor ao outro, como agora 'Deus acima de tudo', que é o lema do fascismo vigente no Brasil, como Deus pode estar acima de mim que não creio em Deus? Como alguém pode dizer para mim que o Deus dele está acima de mim? Porque quando alguém diz 'Deus acima de tudo', é o Deus da pessoa, não é o Deus de qualquer um. Qual Deus que está acima de tudo? Na história da humanidade, você sabe que todo mundo que fala em Deus, está na verdade escondendo sua vontade de ascensão social e de ganhar dinheiro", opinou sobre o bordão adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Na entrevista, o ator comentou sobre seu livro "Pedro Cardoso Eu # Mesmo, em busca de um diálogo contra o fascismo brasileiro", que contém uma coleção de textos publicados por ele no Instagram.

"É o desejo de uma parte grande da população brasileira de eliminar a diferença de pensamento, ou seja, a diferença de pensamento é interpretada como uma ameaça à própria sobrevivência daqueles que estão do lado de cá... O governo do PT, por exemplo, foi se tornando um governo protofascista. Se ele se perpetuasse no poder, era muito provável que eles executassem um projeto à feição deles, com enorme desprezo pelos outros".

Cardoso esclareceu que a reflexão não é sobre direita ou esquerda. "Estou falando do fascismo brasileiro. A própria pessoa do Jair [Bolsonaro], acho uma inutilidade perder tempo com ele porque eles já estão trocando Jair por Sergio Moro. Um dos elementos do fascismo é a idolatria a alguém, foi com o Luiz Inácio [Lula], pode ser com o Jair Messias ou Sérgio Moro. O próprio movimento de tirar da pessoa a responsabilidade e colocar lá no líder é em si um ato de alienação política".

"Vivia naturalmente com o meu machismo"

Marcelo Tas comentou que o feminismo nasceu recentemente em Pedro Cardoso e quis saber como foi essa transição. "Sou um convertido. Sempre dói. Vivia como todo homem, como não sou um abusador, um homem agressivo, eu vivia naturalmente com o meu machismo. Tinha empregada doméstica, o homem brasileiro, ele liberta a mulher dele dos serviços domésticos porque ele escraviza as mulheres mais pobres".

Pedro Cardoso e Graziella Moretto Imagem: Divulgação

Cardoso disse que foi influenciado pela mulher, a atriz Graziella Moretto a refletir sobre o tema.

"Não tinha contato com o meu machismo, mas, Graziella tinha e foi mesmo uma influência intelectual, é uma coisa muito pouco ligada na relação afetiva. Eu e ela não tivemos questões entre nós, mas de fato, ela tinha um olhar que me surpreendeu. Foi me permitir ser influenciado pelo pensamento de uma mulher, isso é mesmo a fronteira do machismo, o cara admite qualquer coisa da mulher, até a traição, mas que ela seja mais inteligente que ele, meu amigo..."

"Foi realmente reeducativo. Tenho quatro filhas, três filhas de sangue e uma da Graziella que está comigo desde pequenininha, que eu ajudo a criar", concluiu.

Bloqueio emocional

Pedro afirma que não tem nenhuma lembrança de sua infância e acredita que isso tenha ocorrido por conta de um trauma. "Tenho um bloqueio emocional em relação à minha infância, não lembro nada. Em fotos, não me reconheço, acho que sou outra pessoa. Lembro da minha vida a partir dos 14 anos. Acho que tive um trauma com a separação dos meus pais e eu apaguei".

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