Mangueira lança campanha para viabilizar exposição sobre Carnaval 2019
A Estação Primeira de Mangueira lançou hoje uma campanha de arrecadação para viabilizar uma exposição sobre o seu desfile campeão do Carnaval 2019. Em uma plataforma de crowdfunding, a verde e rosa espera captar R$ 500 mil para que, a partir de setembro, realize o evento no Museu Histórico Nacional, no centro do Rio. Seria a segunda exposição baseada no trabalho do carnavalesco Leandro Vieira. A primeira, em 2017, levou peças do desfile da escola daquele ano para o Paço Imperial.
Para o artista, não é coincidência ter seu projeto transposto para um museu pela segunda vez. "Eu não vejo o desfile de uma escola de samba como entretenimento e, sim, como uma produção artística. E fico muito feliz de que entendam a reflexão que proponho em meus enredos", afirma o carnavalesco.
A ideia da exposição surgiu na quarta-feira de Cinzas, logo após a proclamação do título da Mangueira. Emocionada com o resultado, a historiadora Renata Santos imaginou como seria interessante confrontar as duas visões de história apresentadas no desfile em um ambiente tradicional na narrativa da história oficial. "Não sou ligada às escolas de samba, mas o desfile me tocou. Trouxe questões muito pertinentes para pensar a sociedade de hoje. E é uma provocação aos historiadores. Vivemos um momento em que o ensino de história está sendo questionado e que a matéria vive um revisionismo louco. Por isso, o ambiente do museu é ideal", afirma a historiadora.
Após o sinal verde do museu, Renata procurou Leandro e o projeto começou a andar. "A ideia, desde o início, foi fazer um diálogo entre as duas narrativas históricas, a oficial e a apresentada pelo desfile. Não pretendemos fazer uma transposição do desfile para o museu e, sim, procurar pontos de diálogo entre a representação do enredo e o acervo", explica Renata. Leandro Vieira destaca que o diferencial será justamente contrapor a visão mais séria da história oficial com momentos mais jocosos que a verde e rosa apresentou na Sapucaí. "Iremos mostrar, ao lado do retrato oficial de D.Pedro I, o figurino da fantasia que o representei montado em uma mula", diverte-se o artista.
Peças do acervo do museu estarão lado a lado com figurinos, fantasias e peças do desfile da Mangueira. Um dos pontos altos da exposição será a instalação do trono de Luiza Mahin, que, na Sapucaí teve a presença de Leci Brandão. No museu, ele estará juntamente com um dos tronos de D. Pedro II.
Pelo tempo escasso para a captação de verbas por leis de incentivo à Cultura, a realização de uma campanha de arrecadação tornou-se vital. Esta parte ficou por conta da Bando, uma empresa especializada e que tem em seu currículo campanhas bem sucedidas como a que viabilizou a Queermuseu no Parque Lage, no ano passado. "Será uma das maiores campanhas do Brasil. O tema é bastante relevante. O enredo foi muito além do Carnaval, emocionou muitas pessoas que se identificaram com a visão da história do país que elas têm. Confiamos muito na relevância do tema e no potencial dessas pessoas se engajarem e trazer outras colaborações", afirma Felipe Caruso, diretor da Bando.
As colaborações podem ser feitas por meio do site Catarse, Dentre as recompensas, ingressos para a exposição, visita guiada virtual, camisas, oficina de samba no pé com a rainha de bateria Evelyn Bastos e oficina de ritmo com mestre Wesley, visita guiada ao barracão com o carnavalesco, além de litografias com os croquis das fantasias. Na opinião de Caruso, um dos xodós será uma réplica da bandeira com os dizeres "negros, pobres e índios", sucesso no último desfile.