Despedida de Ricardo Boechat é marcada por choro, aplausos e buzinas
Um barulho intenso de buzinas se misturou ao choro e aplausos das centenas de pessoas que foram ao Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, onde foi velado o jornalista Ricardo Boechat, morto ontem (11) em um acidente de helicóptero.
O buzinaço foi feito por uma carreata de taxistas, categoria que participava com frequência do programa do comunicador todas as manhãs na BandNews FM. Um ato semelhante ocorreu ontem, em frente à sede da Bandeirantes.
A homenagem também estava em cima do caixão, que recebeu placas de táxis. Aberto ao público desde o final da noite de segunda, o funeral recebeu filas de fãs para um último adeus ao jornalista, que foi aplaudido ao final da cerimônia. Boechat será cremado em cerimônia reservada à família.
"Ele defendia a classe para as autoridades e era um jornalista sincero. Todos os taxistas do Brasil se solidarizaram para fazer essa homenagem. Eu sou ouvinte de todos os dias e sempre admirei o trabalho dele", disse Flavio Souza, taxista há 16 anos. No carro, ele trazia um adesivo com a mensagem: "Meus sentimentos a familiares e amigos do âncora Ricardo Boechat".
A mulher de Boechat, a jornalista Veruska Seibel, chegou à cerimônia acompanhada pelas duas filhas, Valentina, 12, e Catarina, 10, e também de Dona Mercedes, mãe do âncora.
"Eu quero falar que meu marido era o ateu que praticava o mandamento mais importante, que era do amor ao próximo. Nunca vi alguém se preocupar a ajudar tanto todo mundo. Agora ele é nosso anjinho. Que Deus me ajude com as nossas filhas", disse ela, bastante emocionada.
Os outros filhos de Boechat também compareceram ao velório do pai. Eles chegaram em uma van, mas evitaram conversar com a imprensa.
Por volta das 23h20, o corpo de Ricardo Boechat chegou em um carro do serviço funerário da Prefeitura de São Paulo. O caixão foi levado por familiares até o salão onde aconteceu o velório no MIS.
O governador de São Paulo, João Doria Jr., Otávio Mesquita, o comediante Márvio Lúcio, o Carioca, e o jornalista Augusto Nunes foram alguns dos primeiros a chegarem ao local, ainda na noite de segunda (11).
Em conversa com a imprensa, João Carlos Saad, presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação, falou em grande perda para o jornalismo brasileiro e citou ainda "coisas inadequadas" que andam acontecendo, como "barragens", "dormitórios" e possivelmente um "helicóptero inadequado".
Pela manhã, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, disse que pretende realizar uma homenagem ao jornalista em um local público da cidade. Representando a Presidência da República, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse que as críticas de Ricardo Boechat a Bolsonaro não "afetaram o respeito que o presidente da República tinha por ele".
Colegas do jornalista na Band, como o colunista José Simão e o apresentador Eduardo Barão se emocionaram ao falar sobre a falta de Boechat.
Ana Paula Padrão disse que o âncora promoveu uma revolução no jornalismo televisivo e Milton Neves dissse que a comoção com a morte do colega lembrava a das mortes de Ayrton Senna e Tancredo Neves.
Serginho Groisman disse que lembrará de Boechat como um homem de "argumento, bom humor e firmeza". O apresentador do "Bem Estar", Fernando Rocha, definiu o jornalista como um "comandante dessa luta nesse mundo tão pernicioso" e Roberto Cabrini, como uma referência, alguém "que ensinava muito e estava sempre aberto a aprender".
O acidente
Boechat morreu em acidente de helicóptero na Rodovia Anhanguera, em São Paulo, por volta do meio-dia de ontem, quando voltava de uma palestra em Campinas. O piloto da aeronave, Ronaldo Quattrucci, que tentava fazer um pouso de emergência quando colidiu com um caminhão, não resistiu aos ferimentos e morreu no acidente.
Pela manhã, Boechat havia participado de um evento de um laboratório farmacêutico em Campinas e retornava para o heliponto da Band, no Morumbi, zona oeste de São Paulo, na hora da queda.