De coelhinha da Playboy a rockstar: Debbie Harry traz seu Blondie ao Brasil
A história de como o Blondie ganhou o seu nome é curiosa. Em 1974, quando foi fundado, o grupo liderado por Debbie Harry se chamava Angel and the Snake. Mas durante a primeira turnê pelos Estados Unidos, a vocalista sofreu repetidamente com caminhoneiros na estrada que lhe assediavam com gritos de "ei, loirinha!" (em inglês, "hey, blondie!").
A vingança de Debbie foi usar a cantada inconveniente para se tornar um dos maiores ícones femininos da história do pop e do rock. Nesta quinta-feira (15), 44 anos depois do nascimento do Blondie, a banda vem ao Brasil pela primeira vez para tocar no Popload Festival, que ocorre no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Dono de hits como "Heart of Glass", "One Way or Another" e "Call Me", o Blondie divide o line-up do Popload com atrações da nova geração, como Lorde e MGMT, os brasileiros Letrux e Mallu Magalhães & Tim Bernardes, e medalhões dos anos 90, como Death Cab for Cutie e At the Drive-In.
Ícones de todos os estilos
Antes de ser o rosto do Blondie, Debbie Harry foi coelhinha da Playboy e cantou na banda folk The Wind in the Willows. Lá, conheceu Chris Stein, com quem engatou namoro e fundou a banda.
O sucesso do Blondie, curiosamente, é creditado a um acidente. Em 1977, uma rede de televisão na Austrália para a qual a banda havia enviado o single "X-Offender" tocou, ao invés dele, o lado-B "In the Flesh", que se tornou um hit instantâneo no país, o primeiro a acolher o Blondie como sensação pop.
Em 1978 a banda lançou "Paralell Lines", o disco que consolidou sua fama ao redor do mundo. Com mais de 20 milhões de cópias vendidas, ele incluiu a versão de estúdio de "Heart of Glass", uma canção que o Blondie tocava em shows desde a sua fundação.
Originalmente, a música tinha arranjo puxado para o reggae (gênero que o Blondie revisitou mais tarde, com o hit "The Tide is High"). No álbum, ganhou produção disco inspirada por "Stayin' Alive", dos Bee Gees, que impulsionou o Blondie nas paradas.
O clipe, filmado em uma boate em Nova York, serviu para Debbie Harry eternizar a sua presença blasé e sedutora, que influenciou Madonna, Cyndi Lauper e dezenas de outras divas. Com ela nascia um novo e afetado tipo de ícone pop.
Nos discos seguintes, o Blondie consolidou sua reputação como mestres de muitos gêneros musicais. Além da disco e do reggae, eles exploraram o rock e o hip-hop -- "Rapture" se tornou, em 1980, a primeira canção com uso de rap a chegar no topo das paradas norte-americanas.
Hiato e retorno
A bolha do sucesso do Blondie estourou em 1982, com o fracasso do disco "The Hunter". Brigas internas, abuso de drogas por parte de vários membros da banda e o diagnóstico de Chris Stein com a rara doença autoimune pênfigo já haviam desgastado a relação entre eles, e a separação não foi uma surpresa para o público.
Quinze anos se passaram até o Blondie retornar, em 1997. Neste intervalo, Debbie seguiu com carreira solo musical e também investiu no cinema -- sua filmografia inclui títulos como "Videodrome: A Síndrome do Vídeo", "Para Sempre Lulu", "Hairspray: E Éramos Todos Jovens", "Paixão Muda" e "Cop Land: A Cidade dos Tiras". Recentemente, apareceu também na série "Difficult People".
No hiato do Blondie, Debbie e Stein terminaram o namoro, embora tenham continuado a trabalhar juntos desde então. Na década seguinte, a popularidade da banda começou a ressurgir com a chegada de artistas de sucesso que os citavam como influência, incluindo o No Doubt de Gwen Stefani.
O retorno com o disco "No Exit", de 1997, foi muito bem sucedido, produzindo um dos maiores hits da banda: "Maria", que foi parar no topo das paradas britânicas exatamente 20 anos depois de "Heart of Glass" ter marcado o primeiro #1 da carreira do Blondie.
Na sequência de discos que lançou desde então, o Blondie mostrou que tem energia de sobra para se manter relevante no cenário pop. O mais recente, "Pollinator" (2017), traz canções grudentas e bem produzidas como "Long Time" e "Too Much".
O apelo de Debbie Harry como mulher de frente do Blondie segue intocado. No palco, ela ainda alterna entre a eletricidade punk de suas origens e a afetação provocante que a marcou no inconsciente coletivo do público.
Sua presença no cenário pop provou que sensualidade pode andar de mãos dadas com atitude e talento, influenciando gerações de popstars que seduzem o público sem abrir mão de seu poder e sua agência criativa.
O Blondie demorou 44 anos para colocar os pés no Brasil. Prova de sua vitalidade e importância na história da música é que, todo este tempo depois de seu surgimento, continua sendo um show imperdível.