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Contrariando estatísticas: jovem indígena cria projeto sustentável para seu povoado

8.mar.2016 - Helena Indiara Corezomaé é uma das criadoras "Criações Bôloriê Umutima" - Arquivo pessoal
8.mar.2016 - Helena Indiara Corezomaé é uma das criadoras "Criações Bôloriê Umutima" Imagem: Arquivo pessoal

Fernanda Fadel, <br>Do BOL

06/03/2016 08h33

Em 2010, a indígena Helena Indiara Corezomaé saiu da aldeia indígena Umutima - localizada em Barra do Bugres, a 170 km de Cuiabá (MT) - para cursar Jornalismo na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e realizar uma missão importante em prol de seu povoado. 

"Há 7 anos, nosso povo foi surpreendido por uma ação truculenta da Polícia Federal em uma operação de combate à pesca predatória. Eles não apreenderam nenhum peixe, mas deixaram muitos feridos. A mídia não mostrou o lado dos índios, não contou que os policiais chegaram atirando e soltando spray de pimenta no rosto do cacique. Não tivemos apoio, e ninguém de fora soube o que realmente aconteceu”, lembra a jovem, que hoje tem 24 anos.
 
Depois de presenciar o episódio traumático em sua aldeia, Helena focou ainda mais no objetivo de se tornar jornalista. "Queria levar aos meios de comunicação o não dito sobre os índios. Enquanto indígena, sei a importância da comunicação para os povos, decidi lutar pelo curso", ressalta. 
 
Com ingresso no ensino superior, ela passou a integrar parte de um número pouco expressivo quando se trata da população indígena nas universidades. Em uma pesquisa feita pela Funai (Fundação Nacional do Índio), havia somente 140 índios de MT no ensino superior em 2015.
 
Dentro da UFMT, a então universitária conseguiu realizar a primeira ação de grande impacto para ajudar seu povoado: com apoio do Ministério da Cultura, Helena ajudou na criação de um núcleo de empreendedorismo sustentável para mais de 40 artesãos indígenas.
 
Helena (2ª à esq.) posa com os artesãos da aldeia Umutima - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Helena Indiara Corezomaé (2ª à esq.) posa com os artesãos da aldeia Umutima, em MT
Imagem: Arquivo pessoal
O projeto "Territórios Criativos Indígenas: Arte e Sustentabilidade" do grupo "Criações Bôloriê Umutima" está dando identidade e sustento aos moradores com a produção de biojoias, esculturas em madeira, bolsas, cestos e outras peças feitas com produtos naturais. Uma das mais velhas artesãs do povoado, Carminda Monzilar, avó de Helena Indiara, também é uma das mais novas ativas do núcleo.
 

"As mulheres da minha aldeia, muitas vezes, são chefes da família. Minha avó viu o meu avô morrer e ficou responsável pela criação de muitos filhos sozinha. Com artesanato e roça, ela criou todo mundo", conta a neta, orgulhosa. 
 

"Com o  Boloriê, é possível ver a esperança nos olhos de cada um de que tudo pode melhorar", ressalta Helena.
 

A partir do dia 19 de abril, Dia do Índio, as peças produzidas vão passar a ser comercializadas pela internet e Umutima vai se espalhar pelo Brasil com o projeto de Helena.

Buscando potencializar ainda mais a sua aldeia de origem com conhecimentos acadêmicos, Helena Indiara Corezomaé está dando mais um passo dentro da UFMT: vai cursar mestrado em antropologia social.
 

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