Cabo de guerra entre EUA e China deve acelerar inflação pelo mundo

Desde as primeiras horas de hoje, o tarifaço atingiu o objetivo principal do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: cobrar taxas mais altas dos países que ele considera que prejudicam a economia local. O Brasil saiu ileso e se mantém com os 10% já válidos desde sábado passado, mas alguns países enfrentam a "mão pesada", como a China, que recebeu um adicional ontem e agora tem cobrada uma taxa de importação de 104%.
A China "devolveu" a taxa com um aumento de 84% nas tarifas aos EUA anunciado nesta manhã. O professor de Relações Internacionais da Uniarnaldo afirma que os chineses já "estavam se preparando" para um possível novo mandato de Trump. "O país tem um plano traçado de, em 2050, ter uma população com nível de vida desenvolvido e de depender mais do mercado interno que do externo. Então, pode ser que o Trump acabe entregando de bandeja diversos mercados para a economia chinesa", afirma Feijó.
Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que a guerra entre as duas potências econômicas tem um impacto global significativo, e deve derrubar bolsas, desvalorizar o dólar e acelerar a inflação em vários países.
O que aconteceu
Governo Trump criou dois tipos de sobretaxas. A política tarifária contra o mundo é dividida em tarifas abrangentes e tarifas recíprocas. As taxas abrangentes começaram a ser cobradas no sábado e foram fixadas em 10%, incluindo Brasil, Argentina, Nova Zelândia e outros países. As tarifas recíprocas, que entraram em vigor hoje, são aquelas "de igual para igual" aos países que cobram mais de 20% de impostos dos EUA. Apesar do nome e do conceito, em nem todos os casos a taxação é igual. Na tabela mostrada por Donald Trump, Vietnã vai ser taxado em 46%, enquanto cobraria 90%, segundo o governo.
China teve tarifa recíproca aumentada após retaliação. Originalmente, Trump havia determinado um total de 54% de taxas (20% em vigor desde fevereiro, mais 10% que começaram a valer no sábado e outros 24% previstos para hoje). Porém, como a China determinou uma retaliação de 34% aos produtos americanos, Trump "dobrou a aposta" e anunciou mais 50%, totalizando até 104% de taxas. Hoje a China também aumentou a carga, anunciando mais 84% a produtos americanos.
EUA argumentam que medida contra chineses é para combater o "dumping". Prática de vender produtos no mercado internacional a preços abaixo do custo de produção ou do preço normal no país de origem se concentra em produtos como aço, alumínio e itens tecnológicos. Trump justifica as ações afirmando que a China usa práticas desleais, como subsídios governamentais e roubo de propriedade intelectual. Para o presidente, a sobretaxa é uma forma de proteger a indústria americana e reduzir a dependência de produtos chineses.
Escalada de tarifas é parte de uma negociação estratégica. Guilherme Rosenthal, especialista em comércio exterior e Co-fundador da Vixtra, fintech especializada em soluções para importações, avalia que Trump, conhecido pelo estilo agressivo, procura pressionar a China. "O impacto no curto prazo é negativo para o Brasil e o mundo", afirma Rosenthal. As tarifas aumentam a incerteza econômica global, afetam as bolsas de valores e causam uma alta no dólar.
Disputa entre as duas maiores economias do mundo tem gerado um ambiente de incertezas. A China tem reagido com tarifas elevadas, o que impacta diretamente as cadeias globais de suprimentos. Diogo Lima Trugilho, professor de Direito Tributário, explica que o Brasil pode aproveitar a redução de tarifas para competir com a China no mercado americano. No entanto, o risco é que a China intensifique exportações, prejudicando a indústria nacional. "Se os dois entrarem em uma guerra comercial mais intensa, os custos aumentam e as entregas se tornam mais lentas", alerta. Brasil deve ficar atento às oportunidades, mas também aos riscos dessa instabilidade.
Guerra comercial provoca uma transformação global, colocando em risco as cadeias produtivas. A situação é complexa, segundo Vladimir Feijó, professor de Relações Internacionais. Ele acredita que Trump pode estar semeando instabilidade para fortalecer a posição dos EUA no comércio global, mas isso pode gerar consequências negativas para a economia mundial. A flutuação do dólar e a desvalorização da moeda americana são algumas das consequências que podem afetar o Brasil, principalmente em relação à dívida interna e à atração de investimentos.
Medida tarifária também tem uma dimensão política. Para Feijó, Trump utiliza a pressão sobre os países como uma forma de se posicionar como um líder forte, defendendo os interesses dos EUA. No entanto, esse jogo de força pode não resultar nas concessões que ele espera. Ainda não se sabe qual será o impacto da resposta global a essa política, incluindo a possível atuação da OMC (Organização Mundial do Comércio).