Nova tarifa de Trump à China cria turbulência mundial e respinga no Brasil
A nova taxação determinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à China, elevando em 104% a carga tributária destinada ao país vai elevar ainda mais a turbulência causada pela guerra comercial, e vai ter efeitos no Brasil, como a subida do dólar, que chegou a R$ 6 hoje.
Análise de especialistas ouvidos pelo UOL é de que os exportadores brasileiros podem ganhar ainda mais espaço no cenário internacional, desde que a logística interna seja eficaz e mantida a estabilidade institucional.
O que aconteceu
Nova sobretaxa de 50% foi anunciada hoje pelo presidente Donald Trump, em resposta à taxação de 34% determinada pela China aos produtos americanos. Medida começa a valer a partir de amanhã, segundo a Casa Branca.
China disse que "vai lutar até o fim" contra as medidas tarifárias. Hoje, a OMC (Organização Mundial do Comércio) confirmou a criação de um comitê de análise das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos após o governo chinês apresentar uma queixa formal.
"Foi um erro a China retaliar", disse Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, ao informar que taxação começa a valer nesta quarta-feira. Para Fernando Canutto, sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Internacional Empresarial, as sucessivas elevações nas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump são uma estratégia de negociação agressiva com o objetivo de pressionar os países a reduzir impostos sobre a importação de produtos norte americanos. "Além disso, essas medidas atendem a uma base política doméstica, que votou em Trump, pela promessa de proteger indústrias e empregos americanos", lembra.
"Cabo de guerra" faz com que o comércio global entre em "zona de turbulência" e intensifique incertezas que afetam negativamente os mercados financeiros globais. Isso pode resultar em quedas nas Bolsas de valores, aumentando a volatilidade dos mercados. Canutto afirma que a China precisa procurar "para ontem" novos mercados para os produtos. "Essa pressão poderá levar a China a reduzir significativamente suas margens, tornando seus produtos ainda mais competitivos em mercados internacionais e criando novos desafios comerciais para países como o Brasil", pondera.
Anúncio dos EUA pressionou dólar aqui no Brasil, que chegou a R$ 6 pela primeira vez em 11 semanas. Na análise de Theo Braga, CEO da SME The New Economy, esse efeito era apenas uma questão de (pouco) tempo, e pode representar um grande risco a curto prazo. "A valorização é imediata e agressiva, e penaliza o poder de compra dos brasileiros, podendo encarecer produtos essenciais", considera. Nisso, ele vê que o Banco Central brasileiro está em uma encruzilhada, tendo que optar entre combater a inflação ou sustentar o crescimento.
Mas tem quem pode aproveitar algum benefício com toda essa situação. "Os exportadores brasileiros respiram aliviados, pois ganham terreno. Mas essa vantagem só será sustentável se vier acompanhada de planejamento logístico e estabilidade institucional", afirma Braga. "No agronegócio, a briga entre China e EUA abre portas. É a chance de consolidar mercados, aumentar exportações e mostrar ao mundo que somos mais do que um exportador oportunista, e sim um parceiro estratégico", acrescenta André Matos, CEO da MA7 Negócios.
Se a valorização do dólar frente ao Real persistir, ainda considerando a possibilidade de Trump "atacar novamente", mais setores do Brasil podem sentir os efeitos. "Para o setor de serviços, o impacto é duplo: aumento de custos operacionais e redução da demanda interna, especialmente em áreas como turismo, educação internacional, tecnologia e transporte, que sofrem diretamente com a alta do dólar e do custo de vida", aponta Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.