EUA: Fed 'ainda não sabe' impacto das taxas no preço de produtos importados

O presidente do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) de Chicago disse hoje em entrevista a uma rádio americana que "ainda não sabe" quanto do aumento do preço dos produtos causado pelo tarifaço de Donald Trump será repassado aos consumidores. No mês passado, o presidente do Conselho de Governadores do banco, afirmou que a política tarifária vai causar mais inflação e menor crescimento do país.
Banco Central americano é dividido por regiões, e cada uma pode decidir taxas de juros diferentes das determinadas nacionalmente. Estrutura foi criada em 1913 para atuar de forma descentralizada no país.
O que aconteceu
Presidente do Fed de Chicago disse que ainda não sabe quanto do aumento do preço dos produtos será repassado aos consumidores do país. Austan Gollsbee disse que o repasse pode até "falir forncedores". "Há divergência sobre a rapidez e a magnitude com que o aumento das tarifas será repassado aos consumidores", afirmou à radio NPR.
Sentimento do consumidor sobre a economia americana "está despencando", mas que, mesmo com uma visão "péssima" sobre o cenário econômico dos EUA, as pessoas ainda continuam consumindo. "Em situações normais, considerando esse cenário, as pessoas parariam de consumir", ponderou. No entanto, para o presidente do Fed de Chicago, mesmo com situação de consumo "relativamente" boa para o país, há ansiedade e incerteza generalizadas sobre a volta da inflação a um patamar mais alto.
Ele ainda criticou o atraso de "dados mais concretos" sobre a economia dos EUA, e reforçou que o Fed não pode "esperar tanto para saber se o investimento está caindo ou não no país", por exemplo. "Mas estou ansioso para os dados do PIB (Produto Interno Bruto) para entender o real impacto nos investimentos" com as novas políticas de Trump.
Na sexta-feira passada, representante do Conselho de Governadores do Fed alertou que a inflação americana pode ficar maior e crescimento não ser tão grande quanto o esperado por Trump. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, considerou que, ao mesmo tempo que as tarifas foram maiores do que as imaginadas, os relatórios de emprego e crescimento econômico podem frustrar expectativas do governo. Instabilidade econômica pode durar, pelo menos, um ano. "Dentro de um ano a incerteza será muito menor. Os efeitos dessas políticas poderão ser percebidos claramente", disse.
Inflação dos Estados Unidos fechou fevereiro em 2,5% na comparação anual, dentro do esperado pelos analistas. Dados de março, quando tarifas sobre aço e alumínio começaram a vigorar no dia 12, e taxas específicas ao México e Canadá foram impostas, ainda serão divulgados.
Entenda o Federal Reserve
Diferentemente do Banco Central do Brasil, onde há apenas um órgão que centraliza as decisões, Fed tem 12 "regionais", que ajuda a formar um comitê. A estrutura do Federal Reserve é formada pelo Conselho de Governadores (Federal Reserve Board) e o FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês). Sistema foi criado em 1913 como um "banco dos bancos", atuando diretamente como resposta a uma série de crises financeiras na época.
Regionais do Fed estão em cidades com maior número de habitantes. Bancos ficam em Boston, Nova York, Filadélfia, Cleveland, Richmond, Atlanta, Chicago, St. Louis, Mineápolis, Kansas, Dallas e San Francisco.
Conselho de Governadores é uma entidade federal que reporta diretamente ao Congresso e tem a responsabilidade de regular o sistema do Federal Reserve. FOMC é o responsável pelo estabelecimento da política monetária e é formado de todos os sete membros do Conselho de Governadores e pelos presidentes dos bancos regionais. Apesar de serem 12, somente cinco presidentes de banco votam (Nova Iorque é fixo, os demais tem base rotativa a cada ano).
Fed tem um "mandato dual", com dois objetivos primordiais. Além do controle da inflação, o Federal Reserve deve promover o pleno emprego a longo prazo. Por ser um sistema descentralizado, por mais que haja uma "taxa de juros nacional", cada banco local pode determinar uma taxa diferença para a região.
* Com informações da Reuters e AFP