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Sakamoto: Trump aplicou remédio amargo que pode matar seu próprio governo

Colaboração para o UOL

07/04/2025 11h22

Donald Trump comemora a entrada em vigor do tarifaço, mas pode ter dado um tiro no pé e ver seu governo derreter por conta do pacote tarifário, avaliou o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News hoje.

As principais Bolsas de Valores da Ásia e da Europa registram forte queda hoje, primeiro dia útil após o tarifaço de Trump entrar em vigor. A Bolsa de Valores de São Paulo também despencou. Os índices futuros das Bolsas dos Estados Unidos também apontam grandes baixas, sinalizando um dia tenso em Wall Street. O presidente dos EUA classificou o pacote tarifário como "coisa linda".

Trump aposta que as empresas vão para os EUA criar empregos lá e tudo será uma maravilha; por enquanto, é apenas um solavanco. Mas isso pode mudar a política norte-americana e deixar a população extremamente insatisfeita com Trump, que prometeu leite e mel e na sequência deu uma outra realidade.

Pode mudar também a eleição de meio de mandato no ano que vem, quando parte da Câmara e do Senado são renovados. Trump aplicou um remédio e disse que todo medicamento é amargo. O problema é que o remédio de Trump pode matar o seu próprio governo. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

Para Sakamoto, Trump ignora o risco de implodir uma de suas principais promessas de campanha: o combate à inflação.

Trump tenta vender o peixe da política que aplicou. Quer mostrar que está certo porque a política causou um impacto no mundo inteiro. Tirando as marmotas que acreditam em tudo o que um político fala sem questionar a realidade em volta, é claro que isso não para em pé.

Os EUA não estão desconectados do resto do mundo como se estivessem em Marte. O país ajudou a criar um sistema econômico global extremamente interdependente e conectado. Mercados do mundo inteiro estão vendo, neste momento, a aplicação de tarifas, que na prática são bloqueios ao fluxo de produtos, e a retaliação justa por parte de outros países. O mundo está vendo que, com isso, pode acontecer uma recessão global. Nenhum país de economia complexa estará livre disso.

Os mercados no mundo inteiro podem cair porque vai ter menos gente comprando. Mesmo aquelas expectativas iniciais de que o Brasil está bem na fita por ter sido taxado com o mínimo de 10% não são bem assim. Podemos vender mais commodities para a China e outros países que não comprarão dos EUA, mas estados industrializados como São Paulo e Santa Catarina mandam produtos industrializados para os EUA também, vão ser taxados. Isso sem contar os produtos chineses que iam para os EUA e virão para cá.

Tudo é afetado e ninguém ainda sabe ao certo o quanto. No final das contas, e por isso é irônico e quase cínico, Trump vai prejudicar o trabalhador norte-americano. Na prática, tudo isso significa aumento de preços. Lembremos que Kamala Harris não ganhou as eleições no ano passado em grande parte por culpa da inflação. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

Josias: Nero pós-moderno, Trump celebra caos e dá vida nova a derretimento

Em meio ao pânico gerado nos mercados de todo o mundo após o anúncio do tarifaço, Donald Trump dá de ombros à confusão que ele mesmo provocou, analisou o colunista Josias de Souza.

Trump deu vida nova ao termo em inglês meltdown, originalmente usado para usinas nucleares cujos reatores explodem, fogem ao controle e derretem tudo ao redor. No final da década de 90, esse termo foi adotado pelo economês para descrever a situação terminal de países com a economia desarranjada.

Com o tarifaço da Casa Branca, meltdown se incorporou ao catastrofês, que é o novo idioma da economia mundial. A semana está começando como terminou a anterior, com as bolsas de valores derretendo ao redor do mundo.

Em teoria, um meltdown nuclear pode empurrar o reator em combustão terra adentro, saindo do outro lado. No caos do Trump, os países mais tarifados caem no colo da China, que reagiu na base do 'olho por olho'. Desde a semana passada, disseminou-se o pavor de uma guerra comercial que leve à recessão global.

Mesmo sob circunstâncias anormais, investidores e empresas costumam se adaptar às novas regras. O problema é que a regra de ouro de Trump é que não há regra. O mercado não tem parâmetro para se reacomodar. Multidões foram às ruas no fim de semana, as perdas estão corroendo a paciência do consumidor americano e as ações de empresas dos EUA. Trump dá de ombros e se comporta como uma espécie de Nero pós-moderno e está celebrando o caos. Nessas circunstâncias, é muito difícil fazer previsões. Não há novas regras; há Trump distribuindo insensatez. Josias de Souza, colunista do UOL

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