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Por que desta vez o mercado reagiu bem ao pacote de isenção do IR?

Lula entrega a Hugo Motta projeto sobre a isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5.000 mensais - Reprodução
Lula entrega a Hugo Motta projeto sobre a isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5.000 mensais Imagem: Reprodução

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

19/03/2025 12h14

A reação do mercado ao projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil foi bem diferente agora da que aconteceu em novembro, quando a proposta foi divulgada pela primeira vez.

O principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, subiu 0,49%, enquanto o dólar caiu 0,19%, para no menor valor desde outubro, a R$ 5,67 ontem, no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encaminhou o projeto de lei que trata do tema ao Congresso Nacional.

Já em 27 de novembro do ano passado, a reação do mercado foi bem diferente: o dólar fechou no, até então, maior valor nominal da história (sem contar a inflação), com alta de 1,80%, a R$ 5,912. O Ibovespa despencou 1,73%. Nas semanas seguintes, a moeda americana avançou bem mais, chegando a R$ 6,26.

O que mudou?

O dia 27 de novembro de 2024 foi de pânico no mercado de capitais. Os investidores esperavam há meses o pacote de corte de gastos do governo e, quando ele foi anunciado, veio acompanhado da proposta de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. "Foi uma divulgação muito desastrosa porque o mercado esperava corte e não renúncia fiscal", explica André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional Remessa Online.

Agora, o mercado reagiu positivamente porque a comunicação mudou. "O governo agora detalhou melhor as medidas de compensação para a perda de arrecadação, o que gerou menos incerteza", diz Daniela Lopes, planejadora financeira e assessora de investimento da Ébano Investimentos.

A isenção pode significar uma renúncia de impostos de R$ 27 bilhões ao ano. Mas a criação de uma alíquota mínima para quem ganha acima de R$ 50 mil ao mês reduz a percepção de risco fiscal.

Cenário mudou

Cenário internacional impactou reações do mercado. "No ano passado, os investidores internacionais estavam todos indo para os Estados Unidos, em busca de segurança e juros altos. Agora, esse caminho mudou e o dinheiro está vindo para os mercados emergentes", afirma Rodrigo Moliterno, diretor de renda variável da Veedha Investimentos.

Com a desaceleração da economia global e, principalmente da americana, os investidores voltaram-se para os emergentes. A guerra comercial provocada pelo novo presidente dos Estados Unidos também faz o capital internacional procurar mercados menos atingidos por essas medidas.

Por isso, em fevereiro, a Bolsa registrou R$ 1,87 bilhão em entrada de capital vindo do exterior. Foi o terceiro mês seguido de fluxo de investimento estrangeiro positivo. O saldo do acumulado do ano subiu para R$ 8,7 bilhões positivos. "Hoje, com sinais mais claros de que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, pode reduzir juros ainda este ano, o real se fortalece e o apetite por risco melhora. Isso explica, em parte, a queda do dólar e a alta da Bolsa", diz Daniela.

E a situação fiscal?

A preocupação com a situação fiscal não sumiu. "O mercado continua de olho nos gastos do governo porque eles podem gerar inflação e isso é muito prejudicial para os investimentos", diz Moliterno. Mas essa agonia está mais leve, diz Galhardo. "Dados fiscais positivos acalmaram os investidores", diz ele.

Um deles foi o superávit do governo federal de R$ 84.882 bilhões em janeiro. Os gastos do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central foram menores que a arrecadação e por isso houve esse saldo positivo.

Além disso, o mercado está bem mais favorável agora à isenção do IR. "Como essa ideia se tornou bastante popular, pois isenta uma boa parte da população do IR, ninguém, nem o mercado, foi capaz de ficar todo o período contra. Era algo que foi promessa de campanha do presidente Lula e que, desde o ano passado, o mercado já aguardava que em algum momento esse projeto pudesse ser anunciado, por isso a reação mais branda do mercado no dia de ontem", explica Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas, empresa de ouro e câmbio.

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