Petrobras anuncia aumento do diesel nas distribuidoras a partir de amanhã

A Petrobras anunciou nesta sexta-feira (31) que aumentará em R$ 0,22 o preço do litro do diesel para as distribuidoras a partir de amanhã (1º). No mesmo dia o combustível também sofrerá a correção do ICMS, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços.
O que aconteceu
R$ 3,72 por litro será o novo preço médio do diesel para as distribuidoras. O último reajuste do combustível havia ocorrido em outubro de 2023.
A estatal afirma que o preço do diesel caiu nos últimos anos. "A Petrobras reduziu, desde dezembro de 2022, os preços de diesel em R$ -0,77/litro, uma redução de 17,1%. Considerando a inflação do período, esta redução é de R$ -1,20/ litro ou 24,5%", afirma a estatal em nota.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, avisou Lula na segunda-feira (27) que o preço do diesel iria subir. O reajuste se deve à defasagem dos preços do combustível cobrados no Brasil e no exterior. O preço do diesel está defasado entre 14% e 17%, segundo estimativa da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).
Não será o único aumento
Além do reajuste para as distribuidoras, haverá aumento do ICMS sobre o combustível. O imposto sofrerá aumento de R$ 0,06 por litro também a partir de amanhã. A medida — aprovada em outubro do ano passado — eleva o ICMS do combustível para R$ 1,12 o litro.
Pela primeira vez em 13 anos, a petroleira fechou um ano inteiro —2024— sem reajustar o diesel. Diante do temor de que o governo intervenha artificialmente nos preços da estatal, investidores pressionavam a Petrobras pelo aumento. "A ex-presidente Dilma [Rousseff (PT)] tentou segurar a inflação evitando reajustes nos combustíveis e quase quebrou a Petrobras", diz José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo).
A contenção de preços no governo Dilma gerou uma perda de R$ 100 bilhões à petroleira. A estimativa, que considera o que a empresa deixou de ganhar e o que ela gastou para segurar os preços, é de Mauro Rodrigues da Cunha, à época conselheiro da estatal, em depoimento à CPI da Petrobras, em 2015.
Gasolina também ficará mais cara. O ICMS da gasolina e do etanol sofrerá aumento de R$ 0,10 por litro, elevando o valor para R$ 1,47. O reajuste busca reduzir a defasagem de 7% do preço em relação à cotação internacional, ainda segundo estimativa da Abicom.
A petroleira anunciou no ano passado que havia mudado sua política de reajuste. A estatal já não segue a política de paridade internacional, que reajustava o preço dos combustíveis de acordo com as variações do dólar e da cotação do petróleo fora do Brasil.
Inflação alta e comida ainda mais cara
Esses reajustes devem aumentar a inflação e, principalmente, o preço dos alimentos. "No Brasil quase tudo é transportado por caminhões. Então, se aumentou o custo do frete, esse valor será passado para os produtos e repassado para o consumidor", diz Gouveia.
O impacto no aumento do diesel sobre a inflação será "significativa e abrangente", embora indireto. "O diesel é fundamental no frete, que afeta toda a cadeia de alimentos e produtos importantes", diz Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Vários [setores] sofrem, mas alimentos, até pelo peso nos índices de inflação, é o que mais preocupa.
Alexandre Espirito Santo, economista
Já o aumento da gasolina terá impacto direto sobre o IPCA, o índice de preços que mede a inflação. "A cada 1% de aumento da gasolina, sobe aí 0,5% no IPCA. Então, o aumento da gasolina vai repercutir diretamente sobre o IPCA, pois esse índice considera a variação dos preços nos bens e serviços consumidos pelas famílias em geral", diz Renata Silveira Bilhim, advogada especializada em Direito Tributário.
Para o professor da ESPM, os reajustes trarão dor de cabeça ao governo Lula. Ele acredita que o Banco Central precisará manter a trajetória de alta dos juros para conter a inflação, que no ano passado ficou acima das expectativas. "Não tenho dúvidas de que este ano o Brasil vai estourar o teto da meta da inflação", que é de 4,5%. "Minha projeção é de IPCA em 5,4% no ano fechado."
A subida nos preços de alimentos ajuda a explicar o aumento na taxa de reprovação do governo Lula, hoje em 37%. "O brasileiro está sentindo o aumento do preço dos alimentos. É a terceira razão que explica a queda na avaliação do governo Lula", afirmou ao UOL News Guilherme Russo, diretor de Inteligência da Quaest. Em 2024, a inflação dos alimentos foi de 8,23%, enquanto o índice cheio do IPCA variou 4,83%.