Meta de inflação foi descumprida três vezes nos últimos quatro anos
A inflação oficial de 2024 ficou em 4,83% e fechou o ano acima do limite da meta pela terceira vez desde 2021.
O que aconteceu
Inflação de 2024 supera o teto da meta em 0,33 ponto percentual. A oscilação considera o limite de tolerância de 1,5 ponto percentual em relação à taxa fixada em 3% pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para o ano passado. A determinação permitia que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) variasse de 1,5% a 4,5% entre janeiro e dezembro.
Estouro da meta repete cenários registrados em 2021 e 2022. Nos dois anos, a inflação superou o limite em, respectivamente, 4,81 pontos percentuais (10,06%, ante teto de 5,25%) e 0,79 ponto percentual (5,79%, ante meta de 5%). Em 2023, a variação de 4,26% do IPCA foi 0,13 ponto percentual inferior à meta, fixada em 4,75% para aquele ano.
Período teve a inflação acima da meta em 30 dos 48 meses. Ao longo dos últimos quatro anos, o IPCA acumulado em 12 meses passou a maior parte do tempo acima do teto determinado para o final de cada um dos anos. No ano passado, o índice superou o limite em janeiro (4,51%) e depois só voltou a figurar acima do teto entre outubro e dezembro.
Percentual supera o apurado durante os 25 anos do regime de metas. Desde quando foram adotados, em 1999, os limites para o acumulado do ano foram superados em 110 dos 312 meses, o equivalente a mais de um terço dos períodos (35,26%). Ainda assim, estouros foram apurados apenas em oito anos, porque a análise considerava apenas os 12 meses encerrados em dezembro.
Furo da meta em 2024 deverá ser explicado pelo presidente do BC. Recém-empossado no lugar de Roberto Campos Neto, Gabriel Galipolo tem o compromisso de enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para justificar os fatores que fizeram o IPCA fechar o ano passado com variação acumulada acima de 4,5%.
Normas para a meta de inflação foram alteradas a partir deste ano. O principal ponto da alteração consiste no envio de uma justificativa sempre que o IPCA acumulado em 12 meses superar o limite de tolerância por seis meses consecutivos. Atualmente, o compromisso só é assumido quando o índice supera a meta no mês de dezembro. "Acho que a mudança implementada melhora o acompanhamento da trajetória de inflação", afirma Monica Araújo, estrategista de Alocação da InvestSmart XP.
Mudança pode tornar justificativas do BC mais frequentes. Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, não atribui a mudança à frequência da inflação acima do teto da meta nos últimos anos. "Acredito que a motivação seria dar mais flexibilidade ao sistema, de modo que o BC não precisasse reagir tempestivamente a pioras de curto prazo nos índices de preços", avalia. "Dado esse novo regime, estimamos que o BC tenha que se explicar novamente no meio do ano", reforça André Valério, economista sênior do Inter.