Reserva de dólares cai após intervenção do BC. Há espaço para mais leilões?
Os leilões de dólares realizados pelo BC (Banco Central) injetaram US$ 32,6 bilhões na economia para conter a escalada do dólar em dezembro. As intervenções foram interrompidas em 2025, mas ainda podem ser adotadas para segurar a cotação da moeda norte-americana, caso o BC julgue necessário.
O que aconteceu
BC leiloou US$ 32,6 bilhões para limitar alta do dólar. Em dezembro, a autoridade monetária injetou US$ 21,574 bilhões à vista, sem compromisso de recompra futura dos recursos. Os demais US$ 11 bilhões foram negociados em linha e voltarão a integrar as reservas do BC. O movimento foi realizado na tentativa de segurar a valorização da moeda norte-americana, que superou a barreira dos R$ 6.
Reservas cambiais têm menor nível em dois anos. Diante das ofertas de dólares no mercado, o total de dólares em poder do Banco Central caiu US$ 33,3 bilhões (9,2%) em dezembro, de US$ 363 bilhões para US$ 329,7 bilhões. Trata-se do menor valor desde fevereiro de 2023.
Total de reservas ainda é visto como satisfatório. José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School, explica que a injeção de dólares na economia não traz efeitos negativos para o mercado cambial. "Nesse nível de utilização, não teremos nenhum tipo de problema para a utilização da reserva", afirma ele, que avalia a estratégia como a mais adequada para conseguir o equilíbrio cambial.
Sem dúvida nenhuma, o Banco Central vai utilizar desse mecanismo quantas vezes forem necessárias no sentido de tentar promover um equilíbrio entre oferta e demanda de moeda estrangeira.
José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School
Leilões ajudam a conter alta momentânea do dólar. "As intervenções do Banco Central no câmbio têm potencial para sustentar o valor do real no curto prazo, já que é uma injeção direta de recursos no mercado", explica Paula Zogbi, gerente de research da Nomad.
Ofertas não impedem sucesso de futuros leilões. Segundo José Carlos, as ofertas de dólares podem ser retomadas caso o BC julgue necessário. "É possível que essa estratégia seja utilizada também neste ano e não há problema de credibilidade ou de interesse do mercado, por ser uma moeda forte, utilizada em transações no mundo inteiro", destaca o professor.
Não há risco da operação de venda de dólar fazer com que haja uma perda de credibilidade no dólar ou no Banco Central por conta da utilização da política de oferta de uma quantidade maior de moeda estrangeira.
José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School
Intervenções ainda não foram adotadas em 2025. Mesmo com a manutenção do dólar acima de R$ 6, o BC permanece sem movimentações para estimular o recuo da divisa. Com cinco pregões já finalizados neste ano, a moeda norte-americana apresenta desvalorização de 1,14% ante o real, ao passar de R$ 6,18 para R$ 6,11.
Preocupação fiscal ainda impede desvalorização. Zogbi afirma que o recente avanço da moeda norte-americana não reflete a falta de dólares na economia, e sim uma "preocupação estrutural com a saúde das contas públicas". Diante das incertezas fiscais, novas intervenções no mercado cambial poderão ser inevitáveis.
Só podemos esperar uma melhora sustentável do câmbio caso haja compromisso com o equilíbrio fiscal brasileiro de forma a aumentar a confiança do mercado global na credibilidade do país como destino para investimentos.
Paula Zogbi, gerente da Nomad
O Banco Central foi procurado, mas não se manifestou. A autoridade monetária não retornou o contato da reportagem ao ser questionada sobre a interrupção das intervenções e a eventual satisfação com a atual cotação do dólar.