Dólar cai com especulação sobre alívio na política de tarifas de Trump
O dólar vem caindo mais de 1% nesta segunda-feira (06) com a repercussão de uma matéria do jornal americano Washington Post. A publicação diz que o presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump estaria considerando aplicar tarifas de apenas a importações críticas. Isso marcaria uma mudança nas promessas de Trump feitas durante a campanha presidencial.
O que está acontecendo?
O Washington Post publicou hoje, citando três fontes familiarizadas com o assunto, que assessores de Trump estavam mudando de ideia em relação a tarifas. Eles estariam explorando planos tarifários que seriam aplicados a todos os países, mas focados em apenas certos setores considerados críticos para a segurança nacional ou econômica. Com isso, moedas de vários países, inclusive o real, se valorizam nesta segunda frente ao dólar — mesmo após Trump desmentir o jornal.
A história no Washington Post, citando as chamadas fontes anônimas, que não existem, afirma incorretamente que minha política tarifária será reduzida. Isso está errado. O Washington Post sabe que está errado. É apenas mais um exemplo de Fake News
Donald Trump, presidente eleito dos EUA, no Truth Social.
Por volta de 15h50, o dólar caía 1,02%, para R$ 6,119. O índice que mede a variação do dólar americano chegou a cair mais de 1% esta manhã, após ter atingido a máxima de mais de dois anos na quinta-feira (02).
No início da tarde, o euro chegou a subir 1,13%, para US$ 1,04, seu maior valor em uma semana. A moeda havia atingido o valor mais baixo em 25 meses (US$ 1,02) na quinta-feira. O yuan da China também subiu, com alta de 0,5% a 7,325 por dólar. A libra esterlina subiu 0,95% para US$ 1,2542.
Como tarifas influenciam o dólar?
A maior cobrança de tarifas de importação estimularia a inflação dos EUA, uma vez que produtos baratos deixariam de entrar — ou chegariam em menor quantidade — ao país. Com isso, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) pode demorar mais para cortar as taxas de juros, mantendo os rendimentos dos títulos do Tesouro Americano mais altos e apoiando o dólar. Ou seja, investidores do mundo todo continuariam tirando dinheiro de outros mercados para direcionar aos EUA. Isso prejudica várias moedas, inclusive o real.
Por que Trump mudaria de ideia?
O problema é que outras questões econômicas e de política internacional estão parecendo no momento mais importantes para os EUA que as tarifas. É o que diz o professor de Relações Internacionais da ESPM, Roberto Uebel. "A tarifação era a cereja do bolo da política internacional de Trump. Mas essa cereja parece estar caindo do bolo com a questão da Venezuela e a guerra da Ucrânia", explica o professor.
Há um risco de que a Venezuela entre em guerra civil após a posse de Nicolás Maduro, na sexta-feira (10). Ameaçado de prisão, o opositor venezuelano Edmundo González Urrutia afirmou neste sábado (4), após encontro com o presidente argentino, Javier Milei, que irá à Venezuela tomar posse no lugar de Nicolás Maduro. Ele reivindica a vitória nas eleições presidenciais. A Venezuela é uma das principais fornecedoras de petróleo para os EUA. "Uma dor de cabeça no país pode ser muito ruim para Trump, que toma posse no dia 20", explica Uebel.
O presidente americano também tem, num primeiro momento, a Ucrânia como prioridade. Trump almeja conseguir um cessar-fogo entre o país e a Rússia.
Para completar, tem o Canadá: no início desta tarde, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau renunciou ao cargo após quase uma década no poder. "O Canadá é um grande parceiro comercial dos EUA e essa renúncia gera dúvidas sobre quem agora deve comandar o país, os liberais ou os conservadores. É mais um assunto que ganha força enquanto as tarifas vão deixando de ser prioridade", explica o professor.
O fato de o congresso americano ser de maioria republicana - partido de Trump — ajuda o presidente eleito na implementação de suas promessas de campanha. Mas até mesmo esse apoio pode ser relativizado, segundo o especialista, se na pauta outras questões ganham mais importância.
Correção do real
Além disso, o momento colabora para um movimento de valorização do real. "Com o Congresso em recesso, há menos notícias que podem criar mais preocupações sobre a questão fiscal", diz André Valério, economista sênior do banco Inter.
Essa calmaria ajudaria o dólar a voltar a um patamar mais aceitável. Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, acredita que o dólar tem potencial para cair por mais tempo, chegando novamente a R$ 5,70. Valério, por sua vez, não arrisca valores, mas acredita, sim, que existe uma tendência de queda.
Isso porque o pior parece já ter passado. Entre novembro e dezembro, além do chamado "Trump Trade" — a valorização do real causada pela eleição do republicano, houve uma saída recorde de dólares do Brasil. Foi a terceira maior saída líquida anual de dólares desde 2008, ano de início da série histórica medida pelo Banco Central. O fluxo cambial foi negativo em US$ 15,918 bilhões, segundo os dados preliminares.
Com a virada do ano fiscal, muito desse fluxo perde força, dizem os dois economistas. "A promessa de uma safra de soja boa este ano também melhora as perspectivas de exportações mais robustas, o que ajuda a valorizar o real", diz Serrano. O dólar varia para cima e para baixo conforme as entradas e saídas da moeda americana no Brasil. Contam também a demanda no mercado doméstico da moeda e as negociações futuras.