Galípolo diz que Lula sabe de problemas fiscais e que não há bala de prata
O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que assume o comando da instituição a partir de 1º de janeiro de 2025, disse nesta quinta-feira (19) que o presidente Lula (PT) sabe dos problemas fiscais do país e que "não há bala de prata" para resolvê-los.
O que aconteceu
Galípolo afirmou que o tema das dificuldades fiscais e problemas das contas públicas estão sendo tratados há algum tempo na literatura. "Todos vocês sabem, mercado, academia, que é muito difícil apresentar qualquer projeto, programa fiscal que vá ser uma bala de prata, que vá dar conta de endereçar todos esses problemas que existem no curto prazo, no curtíssimo prazo." A declaração ocorreu em Brasília durante entrevista coletiva para divulgação do relatório de inflação do quarto trimestre deste ano.
Futuro presidente do BC disse que percebe "reconhecimento" de problemas por parte de Lula. "Sinto isso nas conversas que tenho com o presidente Lula e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, um reconhecimento do diagnóstico de que existem problemas fiscais a serem endereçados no país". "Esses programas [para enfrentar dificuldades fiscais] devem ser uma demonstração do reconhecimento do problema e passos na direção correta. Passos sempre vão apresentar necessidade de debate com a sociedade e com o Congresso."
Galípolo afirmou que conversou com Lula na manhã desta quinta. "Em toda a conversa, ele tem clareza de quanto a inflação é ruim para a população —ele viveu isso na pele e sabe o que é uma inflação alta— e tem confiança no BC e seus diretores, de que eles vão fazer o trabalho para colocar a inflação dentro da meta", disse. "O presidente está se recuperando, estou contente que ele está voltando para Brasília."
Atual diretor de Política Monetária do BC, Galípolo descartou que esteja ocorrendo um "ataque especulativo" contra o real. "Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, uma coisa só, coordenada. Mercado funciona geralmente com posições contrárias, tem alguém comprando e alguém vendendo", disse ele. "Quando o preço de ativo se mobiliza em uma direção, têm vencedores e perdedores. Ataque especulativo não representa bem como o movimento está acontecendo no mercado hoje".
Às vezes, o Roberto [Campos Neto] usa a palavra 'suave', eu uso a palavra 'generosidade', mas a verdade é que foi uma transição entre amigos. Foi muito amistosa, o Roberto foi muito generoso nesse processo de passagem de bastão, de dar liberdade em todas as reuniões.
Gabriel Galípolo, futuro presidente do BC
Lula havia criticado o Banco Central no último fim de semana. Em entrevista à TV Globo no domingo (15), logo após receber alta médica, em São Paulo, Lula afirmou que o governo federal vem fazendo o possível para garantir o equilíbrio fiscal. De acordo com o presidente, o problema maior está na taxa de juros, acima de 12%, o que, segundo ele, "não teria explicação". As críticas do chefe do Executivo ao BC são recorrentes desde que ele assumiu o mandato, em 2023.
BC tem reserva e vai atuar quando necessário, diz Campos Neto
Ao lado de Galípolo, o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou transição na instituição "será suave". Campos Neto, que fica no cargo até o final deste mês, disse que o BC tem protocolos de atuação no câmbio e que "tem muita reserva".
Ele afirmou que banco vai atuar no câmbio quando considerar necessário. "O Banco Central deve agir no câmbio quando entende que tem alguma disfuncionalidade no fluxo por alguma operação pontual, saída extraordinária ou fator de mercado", disse Campos Neto.
Campos Neto disse que o Banco Central faz intervenções em relação à saída de dólares do país. "Entendemos que começou a ter, através do que a gente vinha levantando com o mercado, uma saída maior, uma saída atípica no fim do ano. A parte de dividendos estava acima da média e o fluxo financeiro estava bastante negativo apontando para ser um dos piores anos da história."
Chefe do BC afirmou que há maior saída de recursos por pessoas físicas. Segundo ele, além das retiradas de recursos por empresas do país, que se intensificam no final de cada ano, também está sendo registrado e monitorado pela instituição uma saída maior de recursos por pessoas físicas, por meio de plataformas de bancos.
Em relação às incertezas fiscais, Campos Neto disse que não cabe ao Banco Central fazer uma avaliação da situação fiscal do país. Afirmou ainda que o BC tenta atuar para melhora a credibilidade na questão monetárias do país.
Sempre disse que ficaria até o fim do mandato independentemente de pressão, que colocaria a institucionalidade do BC acima de interesses pessoais e políticos. Sempre agi de forma técnica e que faria uma transição da forma mais suave possível.
Sempre pensei como seria uma transição suave. Vou continuar ajudando o banco central de forma clara e transparente." Em sua fala inicial, Campos Neto disse ainda que o cenário é marcado por elevação das projeções de inflação e são previstos ajustes.
Roberto Campos Neto, presidente do BC