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Com inflação médica acima da média global, planos podem subir mais de 20%

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Do UOL, em São Paulo (SP)

18/12/2024 12h06

A inflação médica no Brasil, medida pela variação de custos de serviços como internações e consultas, deve ser menor em 2025 do que em 2024, mas continuará acima da média global, segundo um levantamento da consultoria Aon com dados de 112 países.

Os custos médicos têm impacto direto nos reajustes dos planos de saúde. De acordo com a variação estimada desse índice de inflação para o ano que vem, a Aon projeta que os reajustes dos planos fiquem entre duas médias possíveis: 21,8% e 13,7%, a depender da empresa.

Entenda os custos médicos

Inflação médica no Brasil ficará acima da média global em 2025. A previsão é que o custo médico no Brasil tenha alta de 12,9% no próximo ano, segundo levantamento da consultoria Aon. O indicador brasileiro ficará 2,9 pontos percentuais acima da média global, que deve ser de 10%. Já o aumento do custo médico para a América Latina e o Caribe deve ser de 10,7% em 2025.

O número de 2025 ficará abaixo da inflação médica em 2024. Como o ano ainda não terminou, a estimativa para o aumento do custo médico em 2024 é de 14,1%. Portanto, a tendência para 2025 representa uma desaceleração da inflação médica. A média global também deve ter leve queda, uma vez que em 2024 a projeção de alta do custo médico global foi de 10,1%, a maior dos últimos 10 anos.

Projeção leva em conta os custos de internações e consultas. O cálculo considera aspectos como o comportamento de utilização dos planos de saúde e os custos de consultas eletivas, atendimento em pronto-socorro, exames, terapias e internações, além do impacto da incorporação de novas tecnologias e medicamentos à cobertura obrigatória.

Desperdício eleva custos no Brasil

Custo médico no Brasil reflete desperdício e judicialização. As projeções brasileiras têm sido mais altas do que a média global ao menos desde 2022. Para Rafaella Matioli, diretora de consultoria em saúde e capital humano da Aon no Brasil, isso se explica em parte pelos desperdícios no setor e pela alta judicialização. Ela também destaca outros pontos, como a cotação do dólar, e questões comportamentais como o sedentarismo e a obesidade, além da saúde mental.

Há um percentual que se gasta com desperdício, procedimentos que não precisariam ser realizados. Isso está longe de ser responsabilidade apenas do usuário final. Os prestadores de serviço também têm uma grande responsabilidade. E trago também a questão da judicialização. Há uma cultura no Brasil de que não existe limite na utilização do plano.
Rafaella Matioli, diretora de consultoria em saúde e capital humano da Aon no Brasil

Saúde mental e doenças autoimunes são as que mais impulsionam os custos dos planos de saúde no país. Segundo o levantamento da Aon, as condições médicas que mais levaram ao aumento de custos dos planos de saúde corporativos no país foram doenças autoimunes (exceto diabetes tipo 1), doenças cardiovasculares, câncer e saúde mental.

Aumento nas terapias é uma das tendências para 2025. Dentre as tendências para 2025 detectadas pela consultoria estão o aumento da frequência em terapias (psicoterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia) e o impacto dos medicamentos de alto custo.

Frequência em terapias teve alta de 24% em 2024. Os dados de 2024 ajudam a entender as tendências para 2025. Segundo dados coletados pela Aon, houve crescimento de 24% na frequência de terapias simples em 2024. O aumento se deve principalmente à mudança na regra da ANS que permitiu cobertura ilimitada para essa modalidade. Além dos tratamentos focados em saúde mental, a consultoria destaca o aumento da demanda por terapias indicadas para pacientes com autismo.

Em 2022, uma decisão da ANS derrubou o limite para sessões e consultas de algumas especialidades. Dentre elas estão fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional. Segundo entidades do setor, a mudança na regra pesou na conta dos planos de saúde e abriu caminhos para fraudes.

Falta transparência na definição de preços do setor. Rafael Robba, sócio do Vilhena Silva Advogados, escritório especializado em direito à saúde, pondera que falta transparência nas definições de preços do setor, o que torna difícil estabelecer uma relação entre a alta de preços e o uso de determinado serviço. "Não há informações abertas por parte das operadoras. Não sabemos como as operadoras chegam aos percentuais de reajustes", diz.

Reajustes dos planos de saúde

Reajustes superam projeção de custo médico. O custo médico é um fator importante na definição dos reajustes dos planos de saúde, mas não é o único. A conta leva em consideração também a sinistralidade dos contratos, ou seja, a relação entre todas as despesas do plano e o prêmio pago à operadora de saúde. Os reajustes dos planos empresariais e coletivos muitas vezes superam as projeções sobre alta dos custos médicos.

Reajustes podem ser de mais de 20% em 2025. Com base na projeção da inflação médica, a Aon calcula que os reajustes dos planos de saúde fiquem entre duas médias possíveis: 21,8% e 13,7%, a depender dos critérios de cada empresa. A média de 21,8% considera uma sinistralidade de 70%, patamar de equilíbrio praticado por 46% das empresas. Já a média de 13,7% considera uma sinistralidade de 75%, patamar praticado por 35% das empresas. Os dados são da pesquisa de benefícios Aon. A consultoria ressalta que os valores são apenas estimativas. Os números se referem aos planos empresariais e coletivos. Os planos de saúde individuais têm seu reajuste definido pela ANS.

Tendência para 2025 é de queda nos reajustes, na comparação com 2024. Segundo a consultoria Arquitetos da Saúde, que acompanha os reajustes dos planos, a análise dos dados nos últimos meses mostra uma tendência de queda nos reajustes. "Para 2025, há uma tendência de queda nos reajustes. Nos últimos anos, o mercado de planos para microempreendedores cresceu muito. O mercado tenta acertar o preço e em algum momento isso se equilibra. Entendemos que se trata de um freio de arrumação para acertar os preços para esse público", disse Luiz Feitosa, da Arquitetos da Saúde.

Ainda assim, os reajustes previstos ficam bem acima da inflação. A inflação acumulada nos 12 meses terminados em novembro de 2024, medida pelo IPCA, é de 4,87%. Para 2025, a previsão é de inflação de 4,6%, segundo o Boletim Focus do Banco Central.

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