Alta de juros surpreende, e mercado vê reforço da credibilidade de Galípolo
O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu unanimemente nesta quarta-feira (11) elevar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, em um movimento que surpreendeu o mercado financeiro, que projetava uma alta de 0,75 ponto percentual. O BC também sinalizou que novos aumentos do mesmo tamanho poderão ocorrer nas duas próximas reuniões do Copom, o que levaria a Selic a até 14,25% ao ano em março.
Analistas apontam que essa agressividade na condução da política monetária é uma sinalização de que, apesar de indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Gabriel Galípolo, que assume a chefia do BC a partir de janeiro, não vai poupar esforços para tentar conter a inflação.
O que aconteceu
A maior parte do mercado foi surpreendida com a magnitude do aumento da Selic nesta noite. A última edição da pesquisa semanal Focus, do próprio BC, havia apontado que a maioria dos analistas esperava alta de 0,75 p.p. da Selic nesta quarta (11). Porém, algumas instituições financeiras, como os bancos Itaú e BTG Pactual, apostavam em aumento maior por causa da inflação.
Aumento é visto por alguns analistas como positivo para segurar a inflação. O índice oficial de inflação no país ficou em 0,39% em novembro, segundo informado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na terça (10). Apesar de ter desacelerado em relação ao 0,56% registrado em outubro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) permanece acima do teto da meta, que é de 4,5% em 2024.
Parte do mercado acreditava que a alta seria de 0,5 ponto percentual, parte chegava a acreditar em 0,75 ponto percentual. Poucas pessoas imaginavam que 1 ponto percentual viria. Eu me surpreendi positivamente. Dada a situação, é melhor entrar com uma dose de remédio alta e tentar conter o problema rapidamente. Algumas coisas me chamaram a atenção. A primeira delas é que a decisão foi unânime dos membros do comitê. O segundo ponto que chama a atenção é que uma boa parte dos atuais membros foi indicada pelo atual governo. Isso responde o questionamento que existia no passado, se esse grupo técnico iria realmente ser independente. Fico feliz em ver que até o momento tem sido.
Bruno Corano, da Corano Capital
Ficou para o BC o papel de ser a autoridade que busca manter a credibilidade e trazer algum controle para os mercados em um momento de absoluto estresse.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos
A decisão do Copom foi surpreendentemente positiva. Com essa decisão, o Banco Central se mostra firme no propósito de fazer a convergência da inflação para a meta e se mostra à frente do mercado, não estando mais atrás da curva. O BC antecipou muito mais do que o mercado acreditava, o que deve ser bem recebido pelo mercado financeiro amanhã.
Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos
Diante de um contexto adverso, o Copom fez tudo o que podia para tentar convencer de que não pouparão esforços para trazer a inflação para meta. Decisão unânime de acelerar pra valer a subida de juros e teor do comunicado foram nessa direção. Mais importante, reativaram o forward guidance sinalizando mais dois aumentos de 100 pontos base. O movimento de hoje deve contribuir para o processo de recuperação da credibilidade do colegiado e dar um alívio para os agentes do mercado financeiro.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad