Ensino híbrido e engajamento podem conter 40% de perdas em aula, diz estudo
Estudo feito pelo Instituto Unibanco e pelo Insper (instituição de ensino e pesquisa) apontou que o ensino híbrido e um melhor engajamento dos alunos no segundo semestre deste ano podem ajudar a evitar de 35% a 40% das perdas causadas na aprendizagem por causa da pandemia do coronavírus. A pesquisa, divulgada hoje, foi feita com dados relacionados aos jovens brasileiros que vão concluir o Ensino Médio em 2021.
Além dos dois tópicos, o estudo afirma que ações de recuperação e para acelerar a aprendizagem podem ajudar as escolas a driblar os desafios impostos neste cenário. "Quando voltarmos para o presencial o problema da educação ainda não estará resolvido. Temos um passivo enorme e ele precisa ser resolvido", diz o economista e professor do Insper, Ricardo Paes de Barros.
Sem as ações propostas pelo estudo, os alunos devem perder até 16 pontos em Língua Portuguesa e 20 pontos em Matemática. A pontuação de proficiência, ou seja, de domínio dos conteúdos, é feita usando as notas do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
"Tudo que um aluno aprende em Língua Portuguesa no Ensino Médio resulta em 20 pontos. Não existe uma linearidade, aprende-se menos no 3º ano, por exemplo", afirma Paes de Barros. Isso significa, segundo a pesquisa, que se os estudantes brasileiros seguirem o mesmo ritmo de 2020 neste ano, as perdas de aprendizagem em Português são referentes a um ano e meio de estudo.
Em Matemática, o aluno pode concluir a educação básica sem saber o que deveria aprender no Ensino Médio, já que a pontuação chega a 15 pontos na conclusão desse ciclo. E, segundo o estudo, o estudante perdeu 20 pontos por causa das restrições enfrentadas.
A pesquisa também trouxe informações sobre engajamento do aluno no ensino remoto. Usando dados de outros estudos foi possível apontar, por exemplo, que cada dia de aula perdido, o aluno deixa de aprender o conteúdo daquele dia e também têm uma perda equivalente a 1,55 dia de aula.
Paes de Barros considerou ainda estudos que mediram o engajamento dos alunos em ensino remoto e a perda educacional em períodos sem aulas. Ele explica que "a aprendizagem é algo sequencial" e que muitos conhecimentos são esquecidos quando não são exercitados. A pesquisa não analisou dados específicos das escolas particulares, mas segundo o especialista, os resultados não devem ser muito diferentes.
Para chegar aos resultados, foi usada uma metodologia de simulação, para estimar a perda de aprendizagem durante os anos letivos de 2020 e 2021 usando o número de dias letivos no ano passado com a taxa de adesão ao ensino remoto, por exemplo. Além disso, experiências internacionais similares e a previsão de situações que podem acontecer foram colocadas dentro do método.
'Perda gigantesca no desenvolvimento'
Os prejuízos à aprendizagem neste ano ainda não são concretos, mas, em relação a 2020, o estudo apontou que estudantes começaram o 3º ano do Ensino Médio em 2021 com 9 e 10 pontos abaixo do esperado em Língua Portuguesa e Matemática, respectivamente.
"Em 2020, já tivemos uma perda gigantesca no desenvolvimento desses jovens. As simulações [em relação a este ano] são a melhor evidência que possuímos neste momento e apontam possíveis caminhos de mitigação, importante para guiar políticas públicas", disse Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco.
O estudo também indicou como as perdas na aprendizagem podem impactar a renda salarial ao longo da vida do estudante que concluir o Ensino Médio em 2021. Levando em consideração que um aluno pode perder 10 pontos na escala do Saeb neste ano, segundo a pesquisa, cada 1 ponto afeta 0,5% na remuneração de um trabalho exercido pelo jovem.
"Se você sabe um pouco mais de Matemática, vai ganhar 0,5% a mais de renda em média. Uma perda de 10 pontos significa menos 5% na remuneração", disse o economista.
Paes de Barros explicou ainda que se multiplicado a média por aluno pelo número total de estudantes na rede pública do Ensino Fundamental e Médio, o impacto de perda na renda é de R$ 700 bilhões em 2020 e no fim deste ano pode chegar a R$ 1,5 trilhão, se não houver mudanças.
O estudo não traz um recorte racial, de gênero ou geográfico, apenas um valor médio de estudantes brasileiros de escolas públicas do Ensino Médio. Paes de Barros afirma que o objetivo do estudo é dar visibilidade para as perdas na educação, mas pondera que "a perda na educação é extremamente desigual". "Ela vai afetar mais negros do que brancos, mais pobres do que ricos", completou.