Já houve um tempo em que a segurança dos aeroportos era bem menos rigorosa que atualmente. Era fácil embarcar com qualquer tipo de material na mala de mão, incluindo até mesmo armas. Com isso, era comum também muitos incidentes a bordo dos aviões e até sequestros.
Entre o final da década de 1960 e início dos anos 1970, houve pelo menos 15 casos de sequestro de aviões comerciais. O destino preferido dos sequestradores era Cuba. Sob o governo de Fidel Castro, o país era um refúgio considerado seguro para os perseguidos políticos em todo o mundo.
Os casos de sequestro e os desvios dos voos para Cuba eram tão recorrentes que as companhias aéreas já estavam até preparadas para essa situação. As companhias aéreas dos Estados Unidos prepararam um guia com frases em espanhol para os pilotos negociarem com os sequestradores.
No Brasil, a Varig chegou até mesmo a colocar a bordo de seus aviões que faziam rotas internacionais as cartas aeronáuticas com os procedimentos de aproximação e pouso no aeroporto de Havana (Cuba). A medida foi bastante útil, já que a empresa teve alguns casos de sequestro nessa época.
Mesmo avião sequestrado três vezes
Não há informações de que os sequestradores escolhiam um avião em específico, mas um Boeing 707 da Varig ficou marcado na história por ter sido sequestrado três vezes em apenas quatro meses. Em todas as ocasiões, o avião acabou desviado para Havana.
O avião de prefixo PP-VJX chegou até mesmo a ser apelidado de "Expresso Cubano". Embora não exista um dado oficial que comprove, o Boeing 707 PP-VJX é conhecido no meio aeronáutico como o avião mais sequestrado da história.
O primeiro caso aconteceu em 4 de novembro de 1969. O voo RG863 decolou do Rio de Janeiro com destino a Santiago (Chile), com uma escala em Buenos Aires (Argentina). O primeiro trecho ocorreu normalmente. Logo após decolar da capital argentina, no entanto, os sequestradores - nove homens e uma mulher - anunciaram a ação e exigiram que o avião fosse desviado para Havana.
Como não havia combustível suficiente para chegar a Cuba, o avião seguiu viagem até Santiago. Durante a parada para reabastecimento, foram liberados apenas uma mulher grávida e seu marido. Com os tanques cheios, o Boeing 707 PP-VJX seguiu viagem até Havana sem nenhum incidente grave a bordo.
Depois de pousar em Cuba, todos os passageiros foram interrogados e seguiram para o hotel Riviera. Cerca de 15 horas depois, o avião decolou novamente para retornar ao Brasil. Alguns passageiros, no entanto, causaram uma nova confusão, pois queriam seguir para o Chile. Com a possível ameaça de um novo sequestro, quatro passageiros foram obrigados a desembarcar durante uma escala em Caracas (Venezuela), e o avião da Varig finalmente voltou ao Rio de Janeiro.
22 dias depois, outro sequestro
No dia 28 de novembro de 1969, o Boeing 707 PP-VJX retornava da Europa para o Brasil quando foi atacado novamente. Apesar de ser o mesmo avião, o novo sequestro não tinha nada relacionado com o primeiro caso.
O avião fazia o voo RG827, que partia de Paris (França) e fazia uma escala em Londres (Reino Unido) antes de seguir direto para o Rio de Janeiro. Quando estava próximo a Portugal, um passageiro de nacionalidade argelina, armado com uma pistola e uma faca, entrou na cabine de comando e exigiu que os pilotos desviassem o voo para Havana.
Antes de chegar a Cuba, o Boeing 707 PP-VJX precisou fazer uma parada para reabastecimento em Porto Rico. Em Havana, todos os 81 passageiros e 15 tripulantes foram encaminhados para o hotel Riviera, o mesmo utilizado no primeiro sequestro. No mesmo dia à noite, o avião decolou com destino ao Rio de Janeiro com uma escala de reabastecimento em Caracas, dessa vez sem nenhum outro incidente.
O último sequestro
No dia 12 de março de 1970, quatro meses e oito dias após o primeiro ataque, o Boeing 707 PP-VJX foi vítima do seu terceiro e último sequestro. O avião fazia o voo RG862, saindo de Santiago para Nova York (EUA), com escalas em Buenos Aires e Rio de Janeiro.
Logo após decolar da capital chilena, um dos 28 passageiros a bordo rendeu uma das comissárias e exigiu que o avião fosse novamente desviado para Havana. Para cumprir a exigência do sequestrador, o Boeing 707 PP-VJX retornou ao aeroporto de Santiago para ser reabastecido e, então, seguir até Cuba.
Em Havana, os passageiros e tripulantes foram novamente encaminhados para o hotel Riviera. Desta vez, no entanto, a estadia foi mais prolongada, já que as autoridades cubanas demoraram dois dias para liberar o avião. No retorno, o mesmo roteiro: escala em Caracas antes de chegar ao Rio de Janeiro.
Após essa onda de sequestros, o Boeing 707 PP-VJX continuou voando nas rotas internacionais da Varig até 1986, sem nenhum outro incidente registrado. Com a aposentadoria dos voos comerciais, o avião foi vendido à FAB (Força Aérea Brasileira) e transformado na versão cargueira KC-137.