'Escola deve ser a última a fechar', diz secretário de Educação de São Paulo
Às vésperas da volta às aulas em São Paulo, no dia 1.º, o novo secretário municipal de Educação, Fernando Padula, não descarta novo fechamento das escolas públicas e particulares se a situação da pandemia piorar.
Ainda sim, Padula "reza" para que isso não aconteça, como conta em sua primeira entrevista exclusiva desde que assumiu. E diz que, num eventual novo cenário, elas seriam as últimas a parar e as primeiras a voltar.
"Vamos seguir a determinação da Saúde, a educação não vai se rebelar, mas vamos argumentar que, do ponto de vista educacional, psicológico, de sociabilidade, da nutrição, é importante que a escola esteja aberta ou que fique fechada o menor tempo possível", diz.
A volta presencial nas creches e escolas da prefeitura este ano é obrigatória. Padula ainda se vê diante de ameaças de greve dos professores da rede municipal, que querem o retorno em março.
Desde que assumiu no começo do mês, o novo secretário tem conversado com pediatras e educadores para viabilizar a volta e está convencido de que a escola não é local de grande transmissão da covid-19.
Em 2020, a prefeitura foi a pedra no sapato dos movimentos a favor da volta. Mesmo com autorização do estado, Covas permitiu só atividades extracurriculares presenciais.
A amizade que tem desde os seus tempos de adolescência com o prefeito ajudou Padula a ter Covas ao seu lado. O secretário, de 43 anos, conheceu o atual prefeito porque seu avô, Mario Covas, era um "ídolo na infância e adolescência".
Quando menino, Padula fez de tudo para conhecer o então senador, que acabou se tornando uma espécie de mentor dele na política.
Formado em Direito, ele atuou como chefe de gabinete durante nove anos na Secretaria Estadual de Educação, com notórios educadores tucanos, entre os quais Paulo Renato Souza e Maria Helena Castro.
O Estado de S. Paulo: As negociações entre Educação e Saúde não foram fáceis em 2020. Isso mudou agora?
Padula: Estamos tendo uma excelente relação com a Saúde, com conversas com especialistas, pediatras. Estamos criando um grupo das duas secretarias e as 468 UBSs vão acompanhar as escolas municipais. E também já há um comitê de orientação, com a sociedade civil, Sociedade Brasileira de Pediatria, para orientar a Secretaria da educação e acompanhar as ações.
Estadão: Por que o senhor considera a volta tão importante?
Padula: Do ponto de vista da educação, as evidências são enormes: pedagógicas, de convivência, sociabilidade, para evitar a violência. Esse conjunto mostra que a escola é essencial e precisa existir. Mas é voltar a qualquer preço? Não, se tiver uma explosão da pandemia vai ter de fechar. Mesmo que seja mais pra frente, fecha por um período curto e abre de novo.
Estadão: Não estamos numa explosão da pandemia agora?
Padula: Aqui em São Paulo os dados são melhores. Nós vamos seguir a determinação da Saúde sempre, a educação não vai se rebelar, mas vamos argumentar que do ponto de vista educacional, psicológico, de sociabilidade, nutrição, é importante que a escola esteja aberta ou que fique fechada o menor tempo possível. Rezo para que não fechem, mas se a saúde mandar, vamos fechar. É imprevisível. Estava tudo baixando, aí o pessoal foi para a praia, festa, pancadão, e explodiu. A escola pode ser a vítima do comportamento da sociedade.
Estadão: Consegue ver o cenário na cidade em que tudo está fechado e só a escola continua aberta, como em outras capitais do mundo?
Padula: Sim. E consigo também ver tudo fechado de novo, até a escola, mas ela sendo a primeira a ser reaberta. A escola deve ser a última coisa a fechar. Há consenso na prefeitura. A Saúde pesquisou, tem acompanhamento de inquéritos em crianças e se tomou a decisão de abrir. Eu acho que essa foi uma evolução. No ano passado se achava que a escola era um grande foco de contaminação. Entramos na pandemia num susto e agora temos de sair de forma organizada e planejada.
Estadão: Concorda com a obrigatoriedade de volta para os alunos?
Padula: Não. Primeiro porque tem uma lei da cidade de São Paulo que fala que é optativo enquanto tiver pandemia. Claro, em situação normal, educação é obrigação do Estado, da família, está na Constituição. Mas estamos vivendo um momento diferente. Eu prefiro o convencimento. E gradativamente todos vão voltar porque a educação é necessária e importante.
Estadão: Mas para escolas e professores é obrigatório. Como a prefeitura agirá se uma escola não voltar?
Padula: Aí com muito jeito, a equipe da diretoria regional de ensino tem de ir na escola e falar dessa obrigatoriedade. Eu quero construir consensos.
Estadão: O senhor teme greve de professores agora?
Padula: Claro. Qual o princípio para a volta às aulas? É prejudicial para os alunos estarem fora da escola. O que a greve provoca? O aluno não estar na escola. Tive já duas conversas com os sindicatos. Deixei clara a minha posição, sou contra homeschooling, acho que adiar volta às aulas fortalece o discurso de quem defende que não precisa ter escola.
* As informações são do jornal O Estado de S. Paulo