Paulistinha: um avião de 85 anos que formou gerações de pilotos e ainda voa
Um avião desenvolvido na década de 1930 é um dos mais famosos do país e responsável pela formação de diversas gerações de pilotos brasileiros. Trata-se do Paulistinha, um pequeno monomotor de dois lugares criado para o treinamento inicial de pilotos civis e militares.
De construção simples, o Paulistinha reinou absoluto nos aeroclubes do país durante décadas. Estima-se que pouco mais de 1.000 unidades do avião tenham sido construídas ao longo da história.
Ideia de apaixonados por aviação
O Paulistinha é um desenvolvimento da antiga Empresa Aeronáutica Ypiranga e nasceu das mãos de homens apaixonados pela aviação. Seus fundadores foram Horton Hoover (que veio ao Brasil para montar três hidroaviões Curtiss-Wright adquiridos pela Marinha do Brasil), Henrique Dumont Villares (sobrinho de Alberto Santos Dumont) e o alemão Fritz Roesler (ex-piloto de caça que ajudou a fundar a companhia aérea Vasp e foi casado com Tereza de Marzo, primeira mulher brasileira a obter uma licença de piloto).
O projeto do Paulistinha foi desenvolvido no Campo de Marte, na zona norte da capital paulista. De acordo com uma reportagem do jornal "Correio de S.Paulo", o avião fez seu primeiro voo no dia 12 de setembro de 1935.
"Acrobacias arriscadas"
O jornal da época descreveu o voo inaugural com uma decolagem rápida e perfeita, efetuada em poucos minutos. "O sr. Hoover, em uma demonstração de perícia, realizou arriscadas acrobacias, pondo à prova a eficácia e ótima construção do aparelho", noticiou o "Correio de S.Paulo".
Quando fez seu primeiro voo, o Paulistinha era chamado oficialmente de EAY 201. Apenas cinco unidades foram construídas pela Empresa Aeronáutica Ypiranga. O Paulistinha decolaria para valer depois de 1943, quando o projeto foi comprado pela Companhia Aeronáutica Paulista, recebendo o nome oficial de CAP-4.
Sob o comando da Companhia Aeronáutica Paulista, o Paulistinha teve seu projeto aperfeiçoado. Foi, então, que o avião conquistou o Brasil. Segundo a Força Aérea Brasileira, foram produzidas 777 unidades dessa versão.
Na década de 1950, o projeto foi vendido para a Indústria Aeronáutica Neiva, que posteriormente seria incorporada pela Embraer. Sob o comando da Neiva, o Paulistinha recebeu a designação P-56 e mais 261 unidades foram produzidas.
Mais antigo em operação é de 1946
Atualmente, cerca de 40 aviões do modelo Paulistinha ainda estão com situação regular junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para realizar voos. Os quatro Paulistinhas mais antigos em operação foram produzidos em 1946. O avião mais novo em condições regulares de operação foi produzido em 1969 e é operado pelo aeroclube de Rio Claro.
6,65 m de comprimento e asas de madeira
O Paulistinha é um avião um monomotor de asa alta, com estrutura da fuselagem em tubos de aço soldados, asas feitas em madeira e trem de pouso convencional (duas rodas no trem principal e uma roda na bequilha, na parte traseira). No início, o avião usava motor radial, que foi substituído por motor com quatro cilindros horizontais opostos.
O Paulistinha é um avião extremamente simples e leve. São 6,65 metros de comprimento, 1,95 metro de altura e 10,1 metros de envergaduras (distância entre as pontas das asas). Vazio, o Paulistinha pesa apenas 320 quilos. Com velocidade máxima de 155 km/h, o avião tem alcance de 500 quilômetros.
Nos aeroclubes de todo o Brasil, o Paulistinha tem a fama de ser o avião que melhor dá "pé e mão" aos pilotos. É como se diz no meio aeronáutico a habilidade de o piloto sentir e controlar todas as ações do avião durante o voo.
Essa característica, aliada ao baixo custo operacional, fez o sucesso do modelo para o treinamento de pilotos civis e militares no Brasil. Com o avanço da aviação, no entanto, muitas escolas e aeroclubes passaram a adotar aviões mais modernos, alguns, inclusive, com painéis digitais. Mesmo assim, o Paulistinha ainda está longe de uma aposentadoria completa.