Inadimplência no ensino superior cresce 51,7% em maio ante maio de 2019
A inadimplência no pagamento de mensalidades das instituições de ensino superior cresceu 51,7% em maio na comparação com o mesmo período de 2019, conforme a pesquisa Cenário Econômico Atual das Instituições de Ensino Superior Privadas, divulgada nesta segunda-feira, 29, pelo Semesp. O índice passou de 15,8% para 23,9% do total de estudantes no período.
Em abril, o crescimento foi de 72,4% no indicador em relação ao mesmo mês de 2019. Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, a inadimplência cresceu em ritmo mais lento devido aos acordos entre as instituições e os estudantes. "Muitos alunos renegociaram a sua inadimplência, isso foi parcelado e adiado mais pra frente", afirma.
No caso das instituições de grande porte, o indicador avançou de 17,8% para 23,4% entre maio de 2019 e maio de 2020. Já no caso das instituições de pequeno e médio porte, o indicador passou de 15% para 24,2%. Em abril, as empresas maiores sofreram mais com a inadimplência, mas, de acordo com o diretor executivo do Semesp, a situação se inverteu devido à maior capacidade financeira das companhias. "Elas têm uma capacidade de renegociação de dívidas maior, um movimento mais rápido para trazer esses alunos e negociar, têm mais ferramentas financeiras", aponta Capelato.
Como visto no mês de abril, a inadimplência foi maior no caso dos cursos presenciais. O indicador passou de 14,8% para 23% do ano passado para cá, enquanto os cursos de educação à distância chegaram a 21,3% de inadimplência no mês passado, ante 19,6% em maio de 2019.
No Estado de São Paulo, os inadimplentes somaram 23% em maio deste ano, ante 14,6% em maio de 2019. O segmento presencial chegou a 23% de inadimplência em todo o Estado, ante 14,5% no ano passado, enquanto a educação à distância passou de 18,8% para 19,1% entre os dois períodos.
No acumulado do semestre, o indicador chegou a 10,7%. "É sem dúvida a maior inadimplência da história, mais próximo da projeção pessimista", afirma. As estimativas do Semesp para o período, baseadas em projeções de PIB e desemprego, apontavam que no cenário pessimista o índice chegaria a 11,3%, enquanto o cenário otimista trabalhava com 10,1% de inadimplência.
Os 10,7% de inadimplentes representam avanço de 19% no índice ante o primeiro semestre do ano passado, quando o índice era de 9,5%. O menor nível registrado nos últimos anos foi em 2014, quando a inadimplência era de 7,8%. Em comparação com 2014, o índice deste semestre saltou mais de 45%.
Evasão
Já a evasão cresceu 14,2%, passando de 3,2% para 3,6% do total de estudantes de maio de 2019 para cá. No segmento presencial, o índice passou de 3,1% para 3,6%, enquanto na educação à distância houve queda de 5,8% para 5,6% nas desistências.
O diretor-executivo do Semesp pontua que o mês de maio historicamente tem um índice de evasão maior do que abril. "Tenho que considerar não só o efeito da crise e da pandemia, mas também o efeito sazonal, então esse crescimento não nos preocupa tanto", afirma.
Segundo ele, o índice é impulsionado principalmente por estudantes que iniciaram os cursos no primeiro semestre deste ano. "Alunos que estão em anos mais avançados da graduação não querem perder o investimento que fizeram, enquanto o mais novo teve pouquíssimo contato com colegas, professores, campus, então o elo dele é muito mais frágil", aponta. O Semesp estima que, ao final do ano, a evasão pode subir para 30% a 40% do total de estudantes.
A captação de novos alunos para o segundo semestre também deve ser "muito menor", de acordo com Capelato. O termômetro utilizado pelo Semesp tem sido as buscas por matrícula em cursos superiores no Google, que registraram queda de 70% ante 2019.
Demissões
Para o Semesp, a piora dos índices reflete as demissões de docentes anunciadas por instituições de ensino superior no final deste mês. "É uma situação bastante delicada", afirma Rodrigo Capelato.
Ele pontua que, entre esta segunda e a terça-feira, podem ser anunciados novos desligamentos em razão do calendário acordado com os professores. "A norma coletiva estabelece que é preciso fazer a demissão até o início das férias de julho. Se a instituição de fato entrar em um cenário que a evasão cresça 30% e a captação caia 70%, pode ter uma ociosidade gigantesca, um número de professores muito maior que de alunos, e não vai ter receita para sustentar isso", afirma.
A pesquisa do Semesp foi feita com 146 instituições de todo o Brasil, sendo 71% de pequeno e médio porte, até 7 mil alunos, e 29% de grande porte, com mais de 7 mil estudantes.