Coronavírus: pressionadas, companhias aéreas cortam milhares de empregos
As companhias aéreas, fortemente impactadas pela crise do coronavírus e sem perspectiva de recuperação em meses, ou mesmo anos, começam um processo de demissão em massa, chegando a milhares de cortes em seus quadros e causando forte queda em todo o setor de aviação.
Em uma carta aberta, as principais companhias aéreas europeias pediram apoio financeiro e regulatório "urgente" em nível europeu, antes de uma videoconferência nesta quarta-feira (29) com os ministros dos Transportes.
A indústria aeroportuária mundial deve perder 76 bilhões de euros em faturamento em 2020, de acordo com sua federação, a ACI.
O grupo Airbus vê chegar pedidos de adiamento de encomendas de aeronaves. O fabricante europeu, que publicou nesta quarta-feira uma perda líquida de 481 milhões de euros nos três primeiros meses do ano, já desacelerou sua produção e tomou medidas de desemprego parcial.
Diante de uma lacuna aérea que pode durar de dois a três anos, de acordo com especialistas e alguns grandes diretores do setor, a British Airways anunciou na terça-feira (28) mais 12 mil demissões, chegando a um total de 42 mil, desde o início da crise. No mesmo dia, a empresa escandinava SAS e a islandesa Icelandair anunciaram a saída de 5 mil e 2 mil funcionários, respectivamente.
Os profissionais do setor, acostumados a absorver impactos e a se recuperar rapidamente - como após o 11 de setembro de 2001 e a crise financeira de 2008 -, desta vez, temem o duplo efeito de uma recessão global e da apreensão dos passageiros, impressionados pela rápida expansão do coronavírus pelo mundo.
"Muitas empresas se viram inadimplentes (...), governos estão fornecendo apoio substancial, mas a situação permanece extremamente frágil", alertou Brian Pearce, diretor financeiro da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), nesta terça-feira. "A situação está longe de ser resolvida. No início do ano, as empresas tinham em média dois meses de reservas de caixa, que já se esgotaram", acrescentou.
Auxílios estatais
A organização estima um declínio na receita das companhias aéreas em 2020 de US$ 314 bilhões, o que representa uma queda de 55% em comparação à receita de 2019. De acordo com a IATA, 25 milhões de empregos na aviação e em atividades relacionadas estão ameaçadas em todo o mundo.
Há pouco mais de uma semana, a gigante australiana Virgin Australia, que gerava 10 mil empregos, admitiu que não conseguirá cumprir com suas obrigações financeiras, tornando-se a primeira grande companhia aérea a entrar em colapso. Na Noruega, a companhia de baixo custo Norwegian Air Shuttle anunciou no último dia 20 a falência de quatro subsidiárias na Suécia e na Dinamarca, ameaçando 4,7 mil empregos.
Estranguladas por grandes custos fixos, as empresas pediram ajuda aos estados. Os governos francês e holandês anunciaram sexta-feira (24) ajuda às duas filiais do grupo Air France-KLM, na forma de empréstimos diretos ou garantidos, no valor total de 9 bilhões de euros a 11 bilhões de euros.
Liderado pelas companhias aéreas, todo um setor sofre
O grupo Lufthansa está em discussão "para garantir sua solvência" com os governos dos quatro países em que atua - Alemanha, Áustria, Bélgica e Suíça. Ainda sem resultado, a Alemanha planeja injetar temporariamente até 9 bilhões de euros no capital da tradicional companhia, de acordo com vazamentos da imprensa, mas, em contrapartida, o estado alemão exigiria ter sua participação na condução dos negócios, o que não interessaria à Lufthansa.
Neste contexto de negociações tensas, a empresa diz que também está examinando uma espécie de "procedimento de salvaguarda", o que permitiria recuperar o fôlego sem ser controlada por um administrador judicial ou ter que pedir falência.
A Condor, subsidiária do operador turístico falido Thomas Cook, receberá 550 milhões de euros em empréstimos, garantidos pelas autoridades públicas alemãs.
A americana Boeing também publica seus resultados nesta quarta-feira, mas já anunciou que reduzirá em 10% seu efetivo, por meio de demissões diretas e voluntárias. A empresa já pediu ajuda governamental de pelo menos US$ 60 bilhões, para si e para seus 17 mil subcontratados, mas recusa qualquer entrada do estado federal em seu capital.