Volta às aulas remota em SP tem dificuldades com app e reclamações dos pais
Resumo da notícia
- Após suspensão as aulas por coronavírus, atividades letivas retornaram ontem, de forma remota
- Familiares de alunos relataram confusão e problemas no acesso a aplicativo do governo estadual
- Ao UOL, subsecretário negou instabilidade técnica e falou em erros no acesso
- Segundo ele, pais devem ter boa comunicação com as escolas para a entrega das atividades letivas
Pais de alunos da rede estadual paulista se queixam de dificuldades para acessar o aplicativo do Centro de Mídias da Educação de São Paulo, principal aposta da gestão do governador João Doria (PSDB) como ferramenta para a volta das aulas no estado. As atividades letivas foram retomadas ontem, de maneira remota, após cerca de um mês de suspensão das aulas presenciais devido ao novo coronavírus.
O aplicativo é uma das frentes para a transmissão de aulas ao vivo e gravadas para os 3,5 milhões de alunos da rede estadual. Pelo app, eles podem interagir durante as aulas através de um chat ou participando por vídeo. Ao UOL, familiares de estudantes relataram que não estão conseguindo entrar no aplicativo ou que o acesso a ele estava muito lento.
Há ainda reclamações de falta de orientação. Pais dizem estar confusos sobre qual aparelho utilizar — além do aplicativo, há transmissão de aulas pela TV. Também começaram a ser distribuídos hoje nas escolas kits de material escolar com apostilas impressas para os estudantes.
Aline Fernandes, mãe de duas alunas da rede estadual, diz que só conseguiu acessar o aplicativo na manhã de hoje após uma série de tentativas. "Assistimos [às aulas] pelos dois canais [TV e aplicativo], mas o app estava muito instável, demorou muito para conseguirmos acessar", conta.
Mesmo assim, ela diz não saber se fez certo. "Achei muito confuso, porque na TV foi um conteúdo, no app [foi] outro", afirma. "Minha dúvida é se é necessário assistir pelos dois meios ou só por um deles."
Janaina Silva, que é mãe e tia de alunos da rede estadual, também relata dificuldades. Segundo ela, apesar de inserir os dados de usuário e senha corretamente no aplicativo, o acesso é negado. Para fazer o login, é preciso inserir os números correspondentes ao RA (Registro do Aluno) seguido da sigla SP. A senha é a data de nascimento do estudante.
"Coloquei tudo certinho. Até tive auxílio de um funcionário da escola, muito atencioso, que tem ajudado as crianças do nosso bairro, mas nada", conta. Ela diz estar em contato com a escola para saber quais medidas serão tomadas.
Ao UOL, Henrique Pimentel Filho, subsecretário de articulação regional da Secretaria de Educação do estado, disse que a pasta está acompanhando os relatos. Ele negou, no entanto, que tenha acontecido alguma instabilidade técnica com o aplicativo.
"No caso de ontem, vimos que muitos alunos tinham dificuldade com o login e a senha", afirmou. "Ao longo do dia, as próprias escolas foram esclarecendo essas dúvidas para ir garantindo acesso ao aplicativo", disse o subsecretário.
Segundo ele, a secretaria está elaborando uma série de vídeos explicativos para auxiliar em dúvidas como essa e sobre o funcionamento do app.
Pimentel Filho disse ainda que o meio mais recomendado para que os alunos acompanhem as aulas ao vivo é o aplicativo, já que ele permite a interação com um professor.
Segundo ele, a TV e o app são "duas formas de transmissão do mesmo conteúdo". O aplicativo, no entanto, permite verificar a frequência do estudante, contabilizando-a dentro das 800 horas letivas obrigatórias para o ano.
Mesmo assim, o subsecretário afirma que as principais atividades que serão contabilizadas para o ano letivo serão aquelas passadas pelos professores regulares, isto é, das escolas de cada aluno.
"É muito importante que os pais e responsáveis conversem com as unidades escolares para ver exatamente como aquela escola está organizando o fluxo de informação. Como o professor está fazendo esse contato e quais são os canais de comunicação desse estudante com os seus professores", diz.
Segundo ele, cada unidade tem autonomia para definir um meio de comunicação com pais e alunos, e plataformas como Microsoft Teams, Google Classroom e até grupos de Whatsapp podem estar entre os meios de comunicação utilizados para a entrega dessas tarefas.
Conteúdo "rápido" demais
Os familiares reclamam ainda que o conteúdo das aulas oferecidas pelo aplicativo e pela televisão é explicado de maneira muito rápida e que, por isso, os alunos têm dificuldade em entender a matéria.
Sem conseguir acessar o aplicativo, Janaina diz que filhos e sobrinho acabaram assistindo às aulas pelo Facebook, onde a página do Centro de Mídias também está transmitindo os conteúdos. "Tudo muito corrido, horrível. Não dá para acompanhar", avalia.
Na rede social, outros familiares fizeram reclamações desse tipo. "Hoje, para o 7º ano do ensino fundamental, aula de matemática. Como explicaram, parecia aula de cursinho. Onde rever essas aulas? Tem como?", escreveu um deles.
"Muito rápido e confuso. Teve uma aula que foi dada no 6º, 7º e 8º anos, além de travar muito o aplicativo e aqui no Facebook", escreveu outro.
Pimentel Filho diz que retornos como esses estão sendo levados em conta pela secretaria, que estuda formas de melhorar alguns pontos. Ele pontua, no entanto, que é preciso considerar que os alunos que antes estavam acostumados com a vivência de sala de aula agora estão tendo aulas em outro ambiente, com professores diferentes.
"Isso gera um choque inicial. Mas podemos criar estratégias para mitigar isso fazendo trabalho de mediação com o professor regular", diz.
"Se não compreender algo daquela disciplina, o aluno precisa tirar dúvida com o professor regular, que muitas vezes vai estar acompanhando aquela aula [à distância] com ele", afirma.