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Alvo de intervenção de Bolsonaro, PF do Rio perdeu produtividade em 2019

 Ricardo Saadi (esq.) caiu antes de Valeixo e Moro, numa crise iniciada no ano passado - JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ricardo Saadi (esq.) caiu antes de Valeixo e Moro, numa crise iniciada no ano passado Imagem: JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
do UOL

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

28/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Bolsonaro pressionou por saída de superintendente que melhorou eficiência de unidade
  • Após queda de delegado Ricardo Saadi, produtividade caiu na PF do Rio
  • Na última sexta, Moro disse que Bolsonaro quer mudar de novo chefe polícia no estado
  • Em pronunciamento, Bolsonaro negou ter interferido na polícia

A Superintendência da Polícia Federal do Rio, alvo de "interferência" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), segundo o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, perdeu produtividade em 2019. É o que mostram dados do IPO (Índice de Produtividade Operacional), da própria corporação, obtidos pelo UOL com base na Lei de Acesso à Informação.

Pressionada pelo presidente, a troca do então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, no ano passado, foi um dos estopins da que levaram à queda de Moro, e do diretor da PF, Mauricío Valeixo, há quatro dias.

Em 2017, antes da chegada de Saadi, a Superintendência da PF no Rio ocupava a 24ª posição no IPO. Em abril de 2018, o policial assumiu a unidade, que fechou o ano na 17ª posição. Em agosto de 2019, Bolsonaro disse que ele iria trocar Saadi por "motivo" de "gestão e produtividade" — ao fim do ano, a unidade para o 22º lugar no índice.

Todos os ministérios são passíveis de mudança. Vou mudar, por exemplo, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Motivos? Gestão e produtividade"
Jair Bolsonaro, em 15 de agosto de 2019

Saadi é especialista em crimes financeiros e ex-chefe do DRCI, o departamento de cooperação internacional do Ministério da Justiça que, por exemplo, assessorou a Operação Lava Jato na obtenção de dados bancários do exterior. Também chefiou a corporação no Rio durante a Operação Calicute.

Segundo um integrante da PF que acompanhou o caso de Saadi, a saída repentina do delegado está associada a uma investigação que resvalou, ainda que de maneira inadvertida, em um aliado de Bolsonaro. Um despacho em um inquérito sobre crimes previdenciários mencionou um possível envolvimento do deputado Hélio Lopes (PSL-RJ), o que teria irritado o presidente.

Amigo de Bolsonaro, Hélio Negão, como é conhecido, é um dos três deputados que estavam ao lado do presidente durante seu pronunciamento para rebater as denúncias feitas por Moro na última sexta.

O caso do despacho só viria ao conhecimento do público em setembro de 2019, após a queda de Saadi.

Outra suspeita para a troca do delegado era um inquérito da PF do Rio que investigava o aumento patrimonial do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente. O caso acabou arquivado pela PF neste ano.

Bolsonaro tentou emplacar outro substituto

No dia seguinte à crítica ao desempenho de Saadi, em 16 de agosto de 2019, Bolsonaro disse que o substituto no Rio seria o chefe da unidade no Amazonas, Alexandre Saraiva. "Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu", afirmou à época.

Em razão de um acordo com a cúpula da PF, quem assumiu, porém, foi o delegado Carlos Henrique Sousa. Ele atuava em Pernambuco. Apesar de próximo de Saadi, ele não conseguiu imprimir o mesmo ritmo de trabalho. A produtividade caiu no Rio.

A troca de um superintendente da PF é atribuição do ministro da Justiça. No caso de Saadi, Moro nem assinou a exoneração. Ela foi feita pelo número dois da pasta, Luiz Pontel.

Crise se estendeu até 2020

Se a mudança na PF não foi feita exatamente como queria Bolsonaro, havia motivos para a crise continuar. O imbróglio adentrou 2020.

Ao pedir demissão na semana passada, Moro disse que Bolsonaro queria, além de demitir Valeixo, mudar, de novo, as superintendências do Rio de Janeiro e de Pernambuco.

Haveria intenção de trocar superintendentes, novamente o do Rio, outros provavelmente viriam em seguida como o de Pernambuco, sem que fosse me apresentado uma razão para realizar esses tipos de substituições que fossem aceitáveis"
Sergio Moro, ex-ministro da Justiça, em 24 de abril

Rio já esteve entre últimos colocados no ranking

Ao longo dos anos, o desempenho da PF no Rio tem sido motivo de comentários negativos entre os próprios policiais. Em 2013, por exemplo, o IPO da unidade foi o segundo pior entre todas as 27 regionais da corporação, de acordo com reportagem do jornal O Globo de 21 de fevereiro de 2014.

O Índice de Produtividade Operacional considera as principais atividades da PF e divide pelo número de agentes de cada unidade. Para chegar ao índice, são usados 17 indicadores operacionais e oito geográficos, para pontuação das superintendências, cada um com um peso diferente.

Entre esses indicadores estão: número de operações especiais realizadas, quantidade de operações comuns, inquéritos concluídos, prisões, indiciamentos, quantidade de armas, munições, valores, bens e drogas apreendidos, perícias realizadas, vítimas resgatadas em casos de abuso sexual, pedofilia e outras violações aos direitos humanos, mandados de busca e apreensão cumpridos.

A PF e o Ministério da Justiça consideram o IPO um indicador sigiloso. A reportagem conseguiu parte dos dados dele após um recurso à CGU (Controladoria-Geral da União). Como revelou o UOL, o principal indicador público de produtividade da PF e do Ministério da Justiça caiu no primeiro ano do governo Bolsonaro: a quantidade de operações especiais baixou 15%.

A reportagem procurou a PF e a Secretaria de Comunicação da Presidência, que não se manifestaram até a publicação desta reportagem. Os esclarecimentos serão divulgados se forem recebidos.

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