Perito da PF diz que Odebrecht mexeu em provas, aponta defesa de Lula
Resumo da notícia
- Defesa de Lula pediu a absolvição do ex-presidente no processo do Instituto Lula
- Em complemento à defesa, advogados juntaram novo documento às alegações finais
- No documento afirmam que dados da Odebrecht que embasam a acusação foram adulterados
- Para a defesa de Lula, a prova não veio diretamente da Suíça, onde arquivos da empresa estavam hospedados
Em documento em que ratifica o pedido de absolvição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo em que ele é acusado pela Lava Jato de ter recebido da Odebrecht um terreno para a construção de uma nova sede para o Instituto Lula, a defesa do ex-presidente alega que os arquivos da Odebrecht foram violados.
No documento, entregue ontem (26) à 13ª Vara Federal de Curitiba, como parte das alegações finais da defesa do ex-presidente, seus advogados afirmam que a cadeia de custódia dos arquivos da Odebrecht foi violada, ou seja, a prova pode ter sofrido alterações no caminho entre os servidores localizados na Suíça (onde estavam armazenados) e a sua inclusão no processo.
Os arquivos dos sistemas Drousys e Mywebdayb, usados pela Odebrecht para planilhar os dados de propinas e doações eleitorais irregulares pagas pela empresa a diversos políticos, estão entre as principais peças de acusação do MPF (Ministério Público Federal) contra Lula.
Peritos afirmam que arquivos vieram da Odebrecht
Os arquivos teriam sido apreendidos nos servidores suíços usados pela construtora, contudo, a defesa de Lula foi autorizada pelo ministro Edson Facchin, do STF (Supremo Tribunal Federal), a produzir um laudo complementar ao parecer técnico da PF que analisou as provas.
A defesa de Lula contratou o perito Cláudio Wagner, que entrevistou os peritos da Polícia Federal envolvidos no caso.
Os peritos da PF afirmaram à defesa de Lula que os arquivos dos sistemas Drousys e Mywebdayb foram colhidos na Odebrecht, e não extraídos diretamente dos servidores da Suíça.
A "Odebrecht recebeu [os arquivos] da Autoridade Suíça e ela abriu isso, e mexeu nisso, durante muito tempo isso ficou lá", disse o perito da PF Roberto Brunori Júnior ao perito contratado pela defesa de Lula. "Os dados são da Odebrecht, eram dela", completou o técnico da PF.
Na conversa, o perito contratado pela defesa de Lula diz: "Pelo o que eu concluí lendo, e lendo bastante outras coisas, foi isso. Que a Odebrecht pegou, mexeu lá, empacotou e mandou para o Ministério Público [brasileiro]. Eu não sei se isso que eu estou olhando aqui é o mesmo do Ministério Público da Suíça".
O perito da PF, então, diz que isso ocorreu por fazer parte do acordo de leniência firmado pela Odebrecht, "que isso é da natureza do jogo". "O cara [Odebrecht] está dizendo assim: 'eu vou te entregar o sistema com os registros". Aí ele vai lá e muda os registros todo [sic] e entrega o sistema. Pode? Claro que pode. Claro. O sistema é dele", afirma Júnior.
O perito da defesa do ex-presidente insinua que a Odebrecht manipulou os dados para incriminar pessoas. "Eu só quero alertar isso, o criminoso entregou o cadáver embalsamado", diz.
Júnior afirma que essa é a tese do perito e complementa: "Que ela [Odebrecht] encapsulou isso está no laudo, inclusive está provado que o arquivo que foi gerado lá, inclusive, tem arquivos com datas posteriores as apreensões que a gente mostra que foram geradas pela Odebrecht."
Cadeia de custódia violada
Para a defesa de Lula, o fato de os arquivos terem ficado por um período na construtora viola a cadeia de custódia da prova e, consequentemente, seu uso deve ser anulado e Lula absolvido.
Em resposta, a Força Tarefa da Lava Jato no Paraná afirmou que "a Polícia Federal fez meticulosa análise que confirmou a integridade dos sistemas drousys e mywebday, que contêm informações sobre pagamentos de propinas feitos pela Odebrecht".
"O Laudo 335/2018 analisou a cadeia de custódia, códigos hash e outros dados do material", diz a nota. "Em relação ao material oriundo da Suíça, por exemplo, registrou que 99,966% do material teve sua integridade comprovada. Atestou ainda a integridade do material que veio da Suíça, que tem por origem o Ministério Público Suíço."
"O Ministério Público analisará as alegações finais da defesa e, se for o caso, apresentará manifestação nos autos", conclui o texto.