Bolsonaro distribui vídeo sobre 15/3 e políticos veem ataque à democracia
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem distribuído nos bastidores mensagens de apoio às manifestações a seu favor marcadas para 15 de março. A iniciativa, porém, já tem gerado repúdio entre políticos e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Segundo o ex-deputado federal e amigo íntimo de Bolsonaro, Alberto Fraga, no sábado (22), o presidente compartilhou no WhatsApp vídeo que convoca a população a ir às ruas nas manifestações preparadas por ativistas de direita pró-governo.
"Porque (sic) esperar pelo futuro se não tomarmos de volta o nosso Brasil? [...] E temos um presidente cristão, patriota, capaz, justo e incorruptível", diz trecho do vídeo.
"Ele simplesmente recebeu nas redes dele e, como sempre faz, encaminhou para um grupo de amigos que ele tem. Eu sou um deles. E só isso. Não teve nada, não teve nenhuma frase", disse Fraga à reportagem.
A reportagem do UOL procurou a assessoria do presidente Bolsonaro, que não se manifestou até o momento.
De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, Bolsonaro também compartilhou outro vídeo convocando o povo às ruas com imagens de Bolsonaro sendo esfaqueado, posteriormente no hospital e em aparições públicas.
Fraga disse desconhecer esse segundo vídeo revelado pelo Estadão e defendeu que Bolsonaro não se manifestou explicitamente sobre a convocação para 15 de março. "Não houve um vídeo do Bolsonaro convocando. Ele só mandou, repassou."
Em privado, ministros do STF ficaram espantados com a atitude do presidente, mas preferem não se manifestar em público porque não querem "acender fósforo para saber se há gasolina", nas palavras de um deles, segundo apurou o UOL..
No entanto, acham que o papel de um presidente não é o de causar problema. Um dos ministros lembra frase do jornalista e político Carlos Lacerda: "Quem governa, quer ordem".
Outro ministro do Supremo afirmou que se deve contribuir para o retorno a um "estágio normal de temperatura e pressão".
Nas redes sociais, o protesto é explicitamente contra os atuais senadores e deputados federais. Alguns apoiadores chegam a falar no fechamento do Congresso Nacional e mostram militares do alto escalão como heróis para "salvar" o Brasil, como o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), e o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno.
Nenhum dos dois se manifestou em público sobre o uso da imagem deles. Quem repudiou o ato foi o ex-ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, general Santos Cruz, citando a montagem como "irresponsável".
O senador Major Olímpio (PSL-SP), que tem votado com o governo em pautas no Senado, mas procura se distanciar da família Bolsonaro, afirmou esperar que os vídeos não tenham sido distribuídos pelo presidente, mas pelos filhos, em crítica a Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, todos políticos.
"Isto faz esgarçar de vez a relação do Executivo com o Congresso. Isto pode levar a uma ruptura institucional. Pelo que sei, não houve manifestação admitindo ter mandado ou estimulado o vídeo, mas sendo ele ou não, as consequências serão para o presidente", afirmou.
O líder da oposição na Câmara, deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), pediu que os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), se reúnam com líderes partidários para discutir o ato.
Um senador do "centrão" classificou as manifestações previstas para 15 de março como um ato inconsequente "idealizado por vivandeiras e áulicos que gravitam em torno do imprevisível presidente".
O ex-presidente Lula se referiu a Bolsonaro como "falso patriota", e pediu uma posição urgente do Congresso.
Outro ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afirmou nas redes sociais que, se comprovada, a convocação de Bolsonaro para ato "contra o Congresso (a democracia)" configura uma crise institucional de consequências gravíssimas.
"Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto de tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo", escreveu.