Governo escolhe técnico para cargo que foi de amigo de filhos de Bolsonaro
O cargo que era de Vicente Santini, amigo dos filhos de Jair Bolsonaro (sem partido) e que foi demitido após viajar em voo da FAB (Força Aérea Brasileira) da Suíça para a Índia, será ocupado interinamente por um quadro técnico da Casa Civil.
De acordo com ato publicado hoje à tarde no Diário Oficial da União, o engenheiro Antônio José Barreto de Araújo Junior assumirá a Secretaria Executiva do ministério. A permanência no cargo vai depender da definição da situação do ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que retornará de férias (oficialmente na próxima segunda-feira) em um cenário de esvaziamento político.
Araújo acumulará as funções de secretário executivo —cargo de alto escalão e imediatamente abaixo do ministro- e de subchefe de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais, posto que ele já exercia. Dentro da Casa Civil, o engenheiro passou anteriormente pelo setor de Articulação e Monitoramento e foi secretário executivo adjunto.
O perfil do novo interino é, segundo apurou o UOL, diferente do de Santini, advogado que entrou no governo com respaldo do clã Bolsonaro devido a amizade desde a infância com os filhos do presidente. Reportagem da Folha mostrou que ele, filho de general, conheceu a família por conta dos laços entre militares. Bolsonaro é capitão reformado do Exército.
Araújo é graduado em engenharia mecânica, possui MBA em gestão empresarial e é especializado em marketing. Depois de fazer carreira por 20 anos no Banco do Brasil, serviu como assessor em três ministérios (Ciência; Tecnologia, Informação e Inovações; e Cidades). Seu posto de maior destaque foi o de secretário executivo do Ministério do Trabalho.
O engenheiro também representa o governo na composição do CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil), cuja atribuição é estabelecer "diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da internet no Brasil" e normas de execução do registro de endereços eletrônicos (domínios).
Outra exoneração na Casa Civil
No mesmo decreto publicado hoje à tarde no Diário Oficial, Bolsonaro "exonerou da interinidade no cargo" o antecessor de Araújo, Fernando Moura. Ou seja, o servidor deixou a função, mas a Casa Civil ainda não esclareceu se ele está ou não fora do governo. Em tese, ele retornaria ao antigo posto, o de secretário adjunto.
Moura desagradou Bolsonaro depois de, na condição de secretário executivo interino, assinar a readmissão de Santini para um cargo de menor escalão da Casa Civil.
Isso ocorreu um dia depois de o presidente demitir o subordinado pela imprensa e classificar o uso do voo da FAB como um ato "imoral". A recontratação de Santini não pegou bem para o governo, que foi acusado de promover "cabide de empregos". Por esse motivo, Bolsonaro anunciou que a tornaria "sem efeito" e ainda destituiria Moura da função interina.
Onyx na berlinda
Chefe da Casa Civil, pasta que já foi chamada de "ministério dos ministérios", Onyx Lorenzoni (DEM-RS) voltará de férias praticamente sem função. Na avaliação de auxiliares do Planalto, o gaúcho deve desembarcar do governo em breve. Ele só não caiu ainda por conta de uma dívida de gratidão do presidente.
Forte aliado na campanha eleitoral de 2018, o ministro foi perdendo poder aos poucos durante o ano passado. Hoje, sofreu mais uma derrota. Além da demissão de Santini, a quem ele considerava homem de confiança, também acabou perdendo o controle do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), transferido para o guarda-chuva do Ministério da Economia.
Ao programa compete formular e acompanhar privatizações e ações de infraestrutura, unindo investimento público à iniciativa privada. Um dos projetos de concessão que mais empolgam a equipe econômica é o leilão do 5G, cuja previsão inicial é de R$ 20 bilhões.
Agora, sem o PPI, em tese, caberá a Onyx apenas a função de "coordenar" ministérios. Na prática, trata-se de uma competência burocrática e sem relevância estratégica.