Após desautorizar Eduardo sobre AI-5, Bolsonaro diz que fala foi distorcida
Resumo da notícia
- Eduardo Bolsonaro falou em um novo "AI-5" se Brasil tiver protestos como os vistos no Chile
- Decreto endureceu a ditadura militar no Brasil
- Após repercussão, o presidente Bolsonaro tentou minimizar a fala
Jair Bolsonaro (PSL) negou hoje a chance da criação de um novo AI-5 (Ato Institucional Número 5), um decreto da época da ditadura militar. Durante um evento realizado nesta tarde, o presidente foi questionado sobre a fala do filho e deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que levantou a possibilidade durante entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube, e respondeu dizendo que quem fala isso "está sonhando".
"Vai acabar a entrevista aqui. Cobre dele. Quem quer que seja que fale de AI-5 está sonhando. Está sonhando. Não quero nem ter notícia", disse.
Pouco tempo depois da coletiva, porém, Jair Bolsonaro disse que parte da fala do filho foi "distorcida". A declaração foi dada em entrevista ao vivo a José Luiz Datena, no programa Brasil Urgente (Band). Apesar de relativizar as declarações de Eduardo, o presidente reiterou que um novo AI-5 não é uma opção.
No primeiro contato com a imprensa, o presidente afirmou que não sabia nada sobre as declarações do filho, mas disse lamentar caso ele tivesse dito algo nesse sentido.
"Cobre você (jornalista) dele. Ele é independente, tem 35 anos. Se ele falou isso, que eu não estou sabendo, lamento."
"Qualquer palavra nossa vira um tsunami"
Pouco tempo depois, em entrevista ao Brasil Urgente, Bolsonaro disse ter conversado com Eduardo e esclarecido a situação. Disse ainda que o filho está pronto para "se desculpar" se for necessário.
"Não queremos falar em autoritarismo da nossa parte. Ele foi o deputado mais votado da história do Brasil. Eu falei: 'se for o caso, se desculpa'. Ele falou que sem problema nenhum. Mas a gente fica chateado que qualquer palavra nossa, em um contexto qualquer, vira um tsunami. A gente lamenta. Eu falo sobre isso aí com meus filhos, me policio muito no tocante a isso. (...) A gente lamenta essa notícia, em parte distorcida, mas meu filho está pronto para se desculpar, tendo em vista ter sido mal interpretado."
Na conversa com Datena, Bolsonaro mencionou um vídeo publicado por Eduardo em suas redes sociais, em que o deputado não volta atrás em sua declaração e diz que protestos violentos como o Chile não serão permitidos no Brasil.
"O que a esquerda está chamando de protestos e querendo trazer para o Brasil e na verdade a gente sabe que são vandalismos, depredações, e chega, sim, a ser terrorismo, porque eles querem fazer uma instabilidade política para tirar do poder um presidente que não é de esquerda. Isso tudo está perigando vir para o Brasil", afirma Eduardo no vídeo.
"Eu conversei agora com o Eduardo. O que ele explica (no vídeo): ele fala que o que está acontecendo no Chile não pode acontecer no Brasil. Num contexto dos anos 60, o Brasil viveu momentos difíceis aqui, e o AI-5 foi quase uma imposição. Mas ele fala que essa arma não existe e nem queremos", disse Bolsonaro a Datena. No vídeo, porém, Eduardo, não diz que o AI-5 não é uma possibilidade.
Defesa da ditadura
O próprio Jair Bolsonaro já fez declarações a favor da ditadura em outros momentos. O hoje presidente exaltou a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra durante o voto pró-impeachment de Dilma Rousseff. Ustra foi apontado como um dos maiores torturadores da ditadura. O presidente recorrentemente também nega que tenha havido um golpe em 1964. Ele chama de "movimento".
A frase de Eduardo Bolsonaro sugerindo um novo AI-5 (Ato Institucional Número 5) como "resposta" caso a esquerda radicalize gerou indignação entre partidos e políticos brasileiros. Siglas como PT, PSB, PSOL, entre outras, se manifestaram rapidamente após a declaração do deputado federal (PSL-SP) e filho do presidente.