China comemora 70 anos do regime comunista em meio a protestos em Hong Kong
O presidente chinês, Xi Jinping, prometeu hoje respeitar a autonomia especial de Hong Kong na véspera das celebrações em Pequim dos 70 anos do regime comunista, que podem crescer com os protestos na ex-colônia britânica.
Na terça, a China celebra o 70º aniversário da criação da República Popular, proclamada pelos comunistas em 1949, com uma série de eventos que incluem uma gigantesca parada militar, discursos e várias festas.
O desfile de terça reunirá cerca de 15.000 militares, 160 aviões e dezenas de mísseis balísticos, uma forma de exibir ao mundo a China como uma superpotência global.
Ao mesmo tempo, em Hong Kong, coincidindo com o aniversário, o movimento pró-democracia prepara novas manifestações que, segundo a polícia do território, podem ser muito perigosas por sua crescente violência.
Esta região do sul da China está passando por sua mais grave crise política desde sua devolução a Pequim em 1997.
Nos últimos quatro meses, Hong Kong é palco de manifestações quase diárias para exigir reformas democráticas e denunciar a crescente interferência de Pequim.
Um país, dois sistemas
Nesta segunda-feira, em uma recepção em Pequim, na véspera das comemorações do 70º aniversário da criação da China comunista, o presidente Xi disse que seu país "continuará a aplicar plena e fielmente o princípio de 'um país, dois sistemas'", bem como "um alto grau de autonomia" em Hong Kong.
Sob o princípio "um país, dois sistemas" - em vigor até 2047 -, Hong Kong teoricamente goza de certas liberdades indisponíveis para os cidadãos do restante da China, como liberdade de expressão, acesso irrestrito à Internet e independência judicial.
Xi Jinping planeja participar do desfile na terça-feira a partir da muralha sul da Cidade Proibida, o mesmo local em que o fundador do regime, Mao Tsé-tung, proclamou a República Popular da China em 1º de outubro de 1949.
Além disso, fará um discurso anunciado como "importante" pela imprensa oficial, um termo usado para todos os pronunciamentos do chefe de Estado.
Após o desfile militar, outra marcha será realizada, com 100.000 pessoas e 70 carros, recordando as conquistas das últimas décadas. Também serão lançadas 70.000 pombas e 70.000 balões, referentes aos 70 anos do regime.
Por vários dias, imagens animadas com a figura do número 70, slogans e textos patrióticos que elogiam o Partido Comunista e que fazem muito sucesso nas redes sociais foram projetados nos arranha-céus de Pequim.
Nas últimas semanas, a mídia chinesa foi instruída a não divulgar notícias negativas, como acidentes ou desastres naturais, e dar prioridade à "energia positiva", como o Partido Comunista costuma repetir.
Muito perigoso
Para a mesma terça, também estão previstas manifestações pró-democráticas em Hong Kong e serão "muito, muito perigosas", alertou a polícia do território chinês nesta segunda.
"Após nossa análise, deduzimos que a situação de amanhã [terça-feira] será muito, muito perigosa", disse o superintendente John Tsé aos jornalistas.
"Os insurgentes estão aumentando seus atos de violência. A profundidade e amplitude dessa violência e seus planos mostram que estão cada vez mais se voltando para o terrorismo", acrescentou.
Nesta segunda, as ruas de Hong Kong já amanheceram cheias de pedras e paredes cobertas de pichações, horas depois de uma das piores noites de violência na ex-colônia britânica.
As paredes estavam cheias de grafites como "Chinazes", "Fuck Police", ou "Revolução de Hong Kong".
E, antes das comemorações da terça-feira na China, os manifestantes querem aproveitar o evento, que eles chamam de "Dia da Cólera", para mostrar novamente seu ressentimento em relação ao regime chinês.